W. A. Cuin
“– Qual dessas duas provas é a mais perigosa para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?
– Tanto uma quanto a outra. A miséria provoca a lamentação contra a Providência, a riqueza leva a todos os excessos.” (Questão 815, de “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec).
Sendo a Terra, acima de tudo, uma abençoada escola onde o Espírito, ocupando um novo corpo pelo processo da reencarnação, vem em busca de novas lições e ensinamentos, é natural que a criatura deva desenvolver-se em todos os níveis, colhendo experiências tanto numa como noutra situação.
Assim, podemos concluir que a miséria e a fortuna são condições que proporcionam ao homem enormes possibilidades de progresso espiritual, bastando que consiga extrair dos acontecimentos o aprendizado que eles encerram.
Se na miséria defrontamos com todo tipo de carência material, advindo a oportunidade de exercitarmos a renúncia, a paciência e a resignação, na fortuna surgem os percalços naturais nascidos das facilidades, onde temos a grande chance se vivermos com humildade, simplicidade e consciência de que os recursos materiais estão no mundo para proporcionar o bem-estar social.
Em qualquer situação, devemos estar convictos de que todos os esforços a serem envidados devem ter por meta a paz e a felicidade do homem. O ser humano sempre deve ser a meta básica e primeira de qualquer comportamento nosso, sendo pobres ou ricos, não importa, constantemente teremos em nossas mãos mecanismos para servir e ajudar a humanidade a avançar moral e sentimentalmente.
O rico pode, a cada minuto, fazer uso dos seus recursos financeiros para criar possibilidades de socorro ao irmão menos afortunado, retirando o dinheiro dos cofres para movimentá-lo na produção de bens e serviços, exaltando a criação de empregos e oportunidades.
O pobre também dispõe de notáveis disponibilidades de recursos para ajudar a formar uma sociedade mais justa, fraterna e humana, pois atuando com desprendimento, renúncia e resignação, lecionará ao mundo, através de seu trabalho firme e determinado, as lições da coragem, da esperança e da certeza na justiça, benemerência e sabedoria das Leis de Deus.
Ambos, o rico e o pobre, convictos de suas responsabilidades, terão nas mãos as ferramentas ideais para a feitura de um mundo melhor. Certamente o afortunado não poderá entender que os seus recursos sejam destinados ao atendimento de seus caprichos pessoais, enquanto o miserável não deverá viver na lamentação, como um eterno injustiçado de Deus, atuando de forma a comprometer as regras sociais.
Em verdade, pela notável justiça divina, o pobre de hoje pode ter sido o rico de ontem, numa outra encarnação, enquanto o rico de agora já deve ter trilhado as estradas da miséria em outras épocas. Para que atinjamos a perfeição total, conforme prevê a sabedoria divina, precisamos conhecer todos os ângulos da vida, assim nada mais racional e justo que conheçamos os dois lados da moeda.
No entanto, o que possibilita o progresso espiritual da criatura humana, não é a posição que ela ocupa na Terra, mas como aproveita os recursos que essa posição lhe dá, sempre tendo em meta o bem-estar da humanidade. Sendo pobre ou rico, dispomos de notáveis oportunidade de crescimento e evolução.
Existem ricos que não sabem como usar seus recursos e caem pelos desfiladeiros da imoralidade, usura, ganância, sovinice e outros tantos equívocos, enquanto outros sublimam suas fortunas na produção de paz e felicidade ao próximo.
Existem pobres que na revolta, inércia e inconformismo perdem a grande oportunidade do amadurecimento interior, enquanto outros enobrecem seus dias dardejando exemplos de compreensão e amor que exaltam a beleza da vida.
Ricos ou pobres, como cristãos, façamos a nossa parte na edificação de
uma sociedade mais humana.