O Brasil é um país que teria tudo para oferecer à sua população a mais primorosa qualidade de vida, pois provido de um patrimônio natural de extrema valia. Não deriva de atuação do homem a exuberante biodiversidade, a quantidade de água doce, o clima generoso e o potencial turístico gratuitamente ofertados a uma população que já foi considerada “cordial”, ou seja, capaz de colocar o sentimento à frente da razão.
Talvez por não ser preciso recuperar a fertilidade do solo, nem remover meio metro de neve a cada borrasca, o ambiente não tenha merecido o respeito afetuoso constatável em outras plagas. Nem fomos submetidos a guerras cruentas, que dizimam gerações e oferecem o melancólico legado da reconstrução a viúvas e órfãos. Em compensação, parece não nos comover o morticínio crescente de uma juventude cuja perda é economicamente mensurável, sem que consigamos avaliar o prejuízo intangível do sacrifício de vidas em pleno viço.
Nosso país precisa crescer, adquirir maturidade e ter juízo. Refletir sobre o que foi feito de uma tradição de convivência alegre e pacífica, para permitir que a violência tomasse conta de todos os espaços. Avaliar o custo da omissão que permitiu a facínoras se apoderarem do interesse público e se locupletarem nababescamente, enquanto privam a infância de boa educação, os pobres de atendimento médico, os despossuídos de condições de sustento digno de suas famílias.
Onde foi parar a capacidade de indignação? O que foi feito da compaixão, da solidariedade, da comiseração pela indigência moral e a vontade de recuperar os valores?
Há quem tenha nojo da política partidária e tal sentimento é plenamente compreensível. Mas ainda não há como se livrar dessa fórmula de coordenação da vida coletiva. E se assim é, cumpre usar máscaras higiênicas, munir-se de luvas e colocar a mão na massa.
Garimpar, nesse universo de candidaturas, aquelas que possam nos fornecer um mínimo de esperança. Exigir compromissos. Cobrar compostura. Fiscalizar continuamente e ameaçar com atitudes firmes de denúncia e de implementação de instrumentos como o “recall”, para poupar à nacionalidade o ônus de suportar durante todo um mandato aquele que não se mostrar digno de nos representar.
Nossos filhos e netos merecem essa coragem patriótica, pese embora o cenário seja o de uma terra dizimada. Ninguém tolerará mais do mesmo e a reiteração de práticas que nos envergonham como brasileiros.
Acreditemos que resta decência e honradez em alguns espécimes raros dentre aqueles que se propõem a representar a população, mas logo chafurdam na representação inequívoca de seus egoísticos, exclusivos e nem sempre lícitos interesses.
Se assim não for, só a Providência Divina para dar conta do panorama tupiniquim neste final de segunda década do tão esperado século vinte e um.