O notável pensador Zygmunt Bauman, há pouco desaparecido, comparava o progresso da educação ao desenvolvimento dos mísseis balísticos. Quando lançados, a direção e a distância de seu percurso já fora predeterminada. A programação calculava o local de aterrissagem, para que os alvos fossem atingidos.
Ocorre que eles se tornam inúteis quando alvos invisíveis ao atirador se movem e o fazem mais rapidamente do que os mísseis. Pior ainda, se o movimento é errático e imprevisível. Foi preciso criar um míssil esperto, inteligente, capaz de mudar de direção em pleno voo. São mísseis que aprendem no percurso. Lição que a escola de hoje deveria aprender e seguir.
Os estudantes precisam que lhes forneçam de início a capacidade de aprender e aprender depressa. Precisam que se lhes desperte a curiosidade. E também precisam aprender a esquecer. Porque as informações são descartáveis. Logo serão obsoletas e substituídas por outras. Haverá um momento em que o conhecimento adquirido se tornará inútil e será preciso jogá-lo fora, esquecê-lo e substituí-lo.
Isso não era segredo para a sabedoria oriental de longeva tradição. Tanto que um dos provérbios da antiguidade citado pela Comissão das Comunidades Europeias em pleno século XXI, como fundamento para o projeto de aprendizagem por toda a vida, é: “Se queres colher em um ano, deves plantar cereais. Se queres colher em uma década, deves plantar árvores. Mas se queres colher a vida inteira, deves educar e capacitar o ser humano”.
Tudo hoje tem período de existência mais curto. Daí a urgência de mudar o paradigma e não ensinar o educando a adquirir estabilidade, conseguir um emprego que duraria a vida inteira, mas que pode estar dentre as 702 profissões descartáveis, de acordo com o advento da profunda mutação gerada pela 4ª Revolução Industrial. Como bem observa Bauman, “Se a vida pré-moderna era uma encenação diária da infinita duração de todas as coisas, exceto a vida mortal, a vida líquido-moderna é uma encenação diária da transitoriedade universal. O que os cidadãos do mundo líquido-moerno logo descobrem é que nada nesse mundo se destina a durar, que dirá para sempre. Objetos hoje recomendados como úteis e indispensáveis tendem a virar coisas do passado, muito antes de terem tempo de se estabelecer e se transformar em necessidade ou hábito”.
Isso passa pela consciência dos educadores, dos pais e dos responsáveis pela coisa pública?