Você caminhava pela vida destemido, com toda a coragem nos olhos e no coração.
Não havia medo ou obstáculos.
Tudo se resolvia e a tudo se dava um jeito.
Perdeu aqui? Não havia problema: logo se ganhava ali, à frente.
E era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo; ou melhor, você fazia acontecer tanta coisa!
Ia a todos os lugares e falava com toda a gente: e, principalmente, não se achava novo demais ou velho demais; ou importante demais, ou importante de menos.
Dizem que Deus protege os ingênuos - e é a mais pura verdade.
Enquanto você caminhava pela vida, focado em você, e nas coisas que tinha a conquistar - com a correção e a ética que lhe tinham ensinado -, tudo o que de ruim eventualmente lhe acontecia você ia superando como se nada fosse.
Mas o tempo passa e, se traz com ele a experiência, traz também o medo - de tudo o que se viu, de tudo o que se viveu, e, principalmente, da maldade insuspeitada que habita tão grande quantidade de corações - e que você demorou tanto para perceber, para acreditar que existia.
E o medo paralisa; querendo, ou não, você vai se precavendo: de pessoas, de situações, circunstâncias, lugares - e cristalizando preconceitos, ao tempo mesmo em que se apequena como pessoa; você se protege e se diminui.
O medo impede o crescimento, o desenvolvimento humano - e é exatamente isso o que pretendem aqueles que trazem a maldade em si: impedir o crescimento do outro, causar medo mesmo, causar ansiedade - o mal do século é resultado próprio e direto da maldade humana.
Dizem que não existem pessoas más, apenas pessoas infelizes - não é a mais pura verdade.
Penso que pode ser, sim, que a infelicidade se cristalize de tal forma que se transmude em maldade - mas é maldade de toda forma.
E que a ansiedade toda que vítima o mundo e o século é obra e graça, é resultado direto do assédio que os infelizes precisam instilar nos que vivem bem para sentirem-se menos amargos.
Cuidassem todos de suas próprias vidas, desenvolvendo metas e projetos próprios, com retidão e ética, não haveria infelizes maldosos na quantidade nauseante que hoje se vê, empenhados, por toda lei, em provocar a infelicidade alheia - em arrastar os demais para o seu mesmo grau.
É que em algum momento, as pessoas - ou considerável parte delas -, se perdem de si próprias, vítimas, inclusive, da maldade alheia - a de outros outros -, não se encontram mais em si, desenvolvem uma couraça, uma armadura que, justamente, serve ao ataque - o que, nas mentes doentias do século da ansiedade configura a melhor defesa.
Infelicidade, traz infelicidade e maldade gera maldade - não se discute -, mas a maldade só persiste nos corações que foram talhados para ela, porque, a vida ensina o tempo todo, por a mais b, que não é este o caminho a seguir.