Dia desses presenciei um pequeno incidente no trânsito.
E, então, do nada, deu-se o apocalipse: dois marmanjos desceram de seus veículos, ambos com cara de quem não comeu e não gostou, e, entre gritos de “sua mula” prá cá, e “sua anta” prá lá, passaram aos socos e pontapés - um negócio ridículo.
Parei para assistir, claro.
Daí chegou a polícia, os dois rolando no asfalto - um negócio ridículo, mesmo, o povo olhando e filmando -, e, não atino porquê, levou um certo tempo para separar os dois - tinha sangue e tudo -, um negócio muito ridículo.
Constatou-se que um dos veículos sofreu um pequeno arranhão, passaram um pano - do restaurante em frente -, e o arranhão tornou-se imperceptível - caso para uma luta sangrenta mesmo, com se vê.
Os dois foram para o DP e os carros foram juntos.
Imagina só, o custo estatal dessa palhaça.
Agora multiplica isso pelas milhares e milhares de ocorrências do tipo disseminadas pelo país afora e faça a conta de quanto dinheiro público é gasto pela mais absoluta falta de investimento em educação; sim, porque pessoas minimamente educadas iriam ponderar os custos e benefícios de entrar em uma briga sem futuro, sem ganho algum; seriam bem alimentadas e bem dormidas o suficiente para não descontarem o stress do dia a dia no primeiro que encontrassem na rua - ou, quando nada, iriam ao médico arranjar um remedinho para se acalmarem.
Mas, não, não é assim, na pátria das antas de kichute.
No manancial de bestas quadradas.
Quanto a isso, os dois tinham a mais absoluta razão - é “mula” prá cá e “anta” prá lá que não acaba mais.
Falta de educação de qualidade dá nisso: gastos e mais gastos inúteis, dinheiro público indo pelo ralo; trabalha-se, trabalha-se e trabalha-se para nada; não há avanço, não há eficiência, não há crescimento; e, persistindo o quadro, nunca haverá - mesmo quando as estrelas virarem pó, ainda, assim, as últimas bestas quadradas desta terra estarão rolando no asfalto que sobrar.
De fato, vivemos em um Estado deplorável.
Bem, eu, de minha parte, aproveitei o ensejo e fui ao restaurante em frente comprar minhas quatro esfirras abertas de coalhada, como da última vez - a gente precisa ser prático nesta vida.