*O professor Manuel Ruiz Filho é mestre em Contabilidade Avançada e colabora com este jornal
A vida é como uma enorme melodia com todo o instrumental de uma orquestra famosa. Uma delicada sinfonia, aonde cada um vai interpretando partituras alegres em cada um de seus compassos. Algumas vezes solos menos dóceis e outras vezes mais tristes. Quando enxergamos a luz em nossos primeiros dias de vida nossos pais nos encantaram e já nos ensinaram os primeiros acordes, foi quando achamos que eles fariam eternamente parte da nossa orquestra. Infelizmente, não foi bem isso que nos aconteceu. Vez por outra em algum compasso, nossos instrumentos se aquietarão e nos deixarão órfãos desse aprendizado tão carinhoso, amigo, dessa companhia insubstituível que foram. Mas isso não interromperá a nossa execução porque, músicos e mais músicos, continuarão fazendo parte da nossa melodia, cada qual interpretando um pedaço da nossa música de todos os dias. Aos poucos irão se aproximando nossos irmãos, nossos amigos, os amores maravilhosos e até mesmo o animalzinho de estimação. Muitos aparecerão na trilha sonora de forma rápida e logo irão embora. Outros dedilharão nessa nossa melodia acordes um tanto melancólicos, sonoros trechos maravilhosos, prontos a encantar a todos. Muitos, ao calarem seus instrumentos, deixarão saudades eternas, outros tantos, ninguém nem sequer irá perceber que terminaram suas execuções. E assim, continuaremos a tocar a melodia da vida, cheia de atropelos, pausas, sonhos, fantasias, esperas, despedidas, percalços, traduzidos em vitórias e derrotas. Executemos então, da forma mais espiritual possível, tentando nos relacionar bem com os companheiros de palco, procurando em cada um deles, o que tiverem de melhor para extrair de seus instrumentos, lembrando sempre que, em algum trecho melódico, eles poderão errar uma nota aqui, outra acolá. Provavelmente precisaremos entender isso, porque nós também, muitas vezes, teremos a chance do erro e com certeza, haverá alguém que há de nos mostrar o compasso correto. O grande mistério, afinal, é que jamais na Sinfonia da Vida, saberemos em qual movimento nossos instrumentos haverão de calar, muito menos nossos companheiros o saberão, nem mesmo aquele que estiver sentado ao nosso lado. Eu fico pensando se ao final de minha partitura, sentirei saudades, embora acredite que sim. Separar-me de certas pessoas de meu convívio será no mínimo dolorido, mas me agarro na esperança de que em algum momento estarei em outra orquestra, numa tonalidade mais elevada, em outra melodia e quem sabe terei a grande emoção de tocar novamente com aqueles que partiram antes de mim e com a experiência que não tiveram quando iniciamos juntos dedilhando os primeiros acordes. Ficarei muito feliz, em saber que colaborei para que essa experiência tenha se tornado valiosa. Enquanto estivermos aqui juntos tocando, façamos com que nossos acordes sejam lindos e maravilhosos, e que quando chegar a hora do “adeus” de cada um, o calar de cada instrumento traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem com a sinfonia maravilhosa desta existência.