W. A. Cuin colabora com este jornal
“educa e transformarás a irracionalidade em inteligência, A inteligência em humanidade a humanidade em angelitude”. (Do Livro “Fonte Viva” – Emmanuel, Psicografia de Francisco C. Xavier – item 30)
Na época, Nelsinho morava em um casebre, em um dos bairros de maior carência material da cidade. Contava com aproximadamente oito anos de idade e deixava transparecer, no semblante alegre, a expressão de vivacidade.
Morava com o pai, um senhor de meia idade, que ganhava o escasso sustento da família, trabalhando como diarista, ora aqui, ora ali, mas sempre com extrema dificuldade, pois que tinha outros quatro filhos.
Sua mãe, portadora de notório desequilíbrio mental, não suportando as agruras e a miséria da família, abandonou o lar, tomando rumo ignorado, deixando a prole em completo abandono.
As atividades domésticas foram então entregues à pequena Isabel, irmã de Nelsinho, que com apenas dez anos de idade procurava, dentro do possível, atender às exigências do fogão, do tanque, da faxina da casa e ainda ampara os irmãos menores.
Em oportunidades várias, ao nos dirigirmos àquele ninho doméstico, encontramos Isabel ao redor do fogão, preparando a pobre refeição do dia. Nos comovia o coração vê-la, tão pequena, com tamanha responsabilidade. Era na verdade, a dona da casa, pois o pai ainda de madrugada, apanhava o caminhão de “boais frias” e seguia para a lavoura, retornando ao barraco ao escurecer.
Certa feita, no começo da noite, ao aportarmos àquele humilde lar, juntamente dom um grupo de amigos fraternos, nos deparamos com as crianças já recolhidas e o fogão apagado, sendo informados que o chefe da casa, ainda não havia voltado do trabalho e, nada tinham para comer. Somente jantariam naquele dia se o pai trouxesse algo ou tivesse recebido o dia de trabalho.
Nelsinho, no chão da pequena sala, com um pedaço da madeira, algumas latinhas e uma velha faca de cozinha distraído, tentava montar alguma coisa.
— Estou fazendo um camburão, tio!
— Mas, Nelsinho, por que um camburão? Por que um carro policial?
— Sabe tio, é que meu irmão mais velho, estava com fome, saiu na cidade e fez coisa errada. Então, hoje de manhã, o camburão veio e levou ele embora. Acho que ele está preso.
— O camburão prende as pessoas, não é tio?
— O senhor poderia me arrumar alguns pregos, para terminar meu camburão?
Com um “nó” na garganta e algumas lágrimas nos olhos, percebemos que o Nelsinho, era igual a qualquer outra criança, que sonhava, sofria e imitava aquilo que o rodeava no momento.
Sem dúvida, ali identificava a força do exemplo. O menino patenteava em suas atividades, exatamente o reflexo da vida que o cercava.
A criança é mesmo uma fita virgem que o futuro reproduzirá aquilo que nela for gravado. Então, podemos perfeitamente identificar o tamanho de nossa responsabilidade.
O que estamos fazendo por nossas crianças? Que exemplo estamos oferecendo? Que tipo de ajuda conseguimos ofertar ao meio social em que vivemos?
A criança que é amada, ama. Aquela que é protegida, protege. A que é acariciada, acaricia. A que é educada, educa. A que é marginalizada, marginaliza. A que é violentada, violenta. A que é abandonada, abandona. A que é agredida, agride.. A que é desprezada, despreza.
O Nelsinho tina um camburão como modelo. E as crianças que estão sob nossa influência, o que têm como modelo?
Pensemos nisso.