A maior vantagem do demônio é fazer o humano acreditar que ele não existe. Mas a sua presença é tangível. O que levaria as criaturas a tamanha crueldade e insensatez, não foram os artifícios do “príncipe das trevas”? Ele continua, ativo, fazendo das suas e captando almas.
Muito inteligente, não é tosco em suas estratégias. Utiliza-se de métodos sagazes e convincentes para fazer crer, por exemplo, que o aquecimento global é uma invenção dos inimigos do agronegócio.
Várias multinacionais que extraem palpáveis lucros num Brasil em que vale tudo e que têm interesse na continuidade da venda de agrotóxicos, de substituição de mata nativa por pasto, patrocinam eventos em que meteorologistas afirmam que o gás carbônico não causa efeito estufa e que a ação do homem é insignificante para causar efeitos sobre o clima.
É o que ocorre atualmente em regiões vulneráveis como a chamada Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, nova fronteira agrícola brasileira. São marcas famosas que pagam palestras e propagam a “inverdade científica chamada aquecimento global”.
Ainda que os porta-vozes de tais versões não sejam cientistas prestigiados, para uma plateia de rústicos é tudo o que eles gostariam de ouvir. Enquanto isso, o meteorologista Carlos Nobre sentencia: “Dizer que a molécula de gás carbônico não exerce efeito estufa atmosférico, isto é, que não absorve e reemite radiação térmica, é uma asneira anticientífica equivalente a dizer que a Terra é plana”.
Triste Brasil que já destruiu a maior parcela de suas florestas, que poluiu seus rios, que não cuida do mar, um oceano de resíduos sólidos inconsumíveis e tóxicos e que tem de suportar a dolosa insensatez de setores que extraem lucro da edificação da miséria. Pois é isso o que aguarda a população dendroclasta num futuro bem próximo.
Invoque-se novamente o testemunho de Carlos Nobre, este sim, um brasileiro patriota, que enxerga a nefasta atuação de dois fatores: a cupidez, a ganância e a ignorância ou a má-fé deliberada: “É irônico ver empresas que dependem tanto de ciência para desenvolvimento de seus produtos, patrocinarem de forma irresponsável e antiética pseudociência, pensando somente no lucro que a expansão da fronteira agrícola vai lhes trazer”.
O trágico é que as vítimas desse comportamento malévolo atingirão inocentes: as gerações do porvir, pelas quais o constituinte escreveu de forma pioneira o artigo 225 do Pacto Fundante que completa 30 anos sob o mais cruel desrespeito.