Talvez - talvez -, não seja o apocalipse. Ainda.
Não saia por aí, caro leitor, descabelando-se em praça pública, e gritando que o fim está próximo.
Talvez - talvez -, tenhamos alguma chance. Ainda.
A desesperança, a falta de fé, e o amargor, a inveja e a loucura que as acompanham, é bem verdade, não é descalabro que hoje atinja só os trópicos. O mundo todo padece, neste início de século, da mesma aflição coletiva.
Pessoalmente, acho que é o inconsciente coletivo tomando consciência da nossa inescondível irrelevância.
Avanços tecnológicos, científicos, tem colocado a nu, o quanto nos tornaremos dispensáveis num futuro não tão muito distante assim, e o quanto - e quanto -, de muito - muito -, esforço teremos de despender para mantermo-nos minimamente necessários numa sociedade global que caminha a passos larguíssimos para a mais histórica das elitizações - a do conhecimento inalcançável para a imensa e absoluta maioria das pessoas no mundo, acompanhada da dispensabilidade humana.
O porvir, o novíssimo porvir, dele não temos ideia do que será, apenas sabemos de sua iminência, daí, a aflição, o pânico, a perplexidade.
Vivemos um mundo de aflitos, esperando o Armagedom, mas sem muita noção do que se trata - sabemos, no entanto, que se trata.
O primitivo em nós simplesmente não encontra meios de lidar com tamanha gama de informações sem angustiar-se, sem tornar-se um ansioso crônico, e daí partir em desabalada carreira psicológica na busca enlouquecida por um casulo, um abrigo metafórico - qualquer um.
Um mundo insólito, com muitíssima gente excêntrica.
Acabaram-se os padrões - isto é o que há.
Teremos de dar um jeito. Mas qual?
Pois é.
Pessoalmente, falo aqui do meu casulo - olhando vez ou outra para fora.
Resta-me rezar pela nossa capacidade de superar-nós a nós mesmos - as nossas sandices, sempre ditadas pela mais criminosa das ingnorâncias - o ignorar o outro, a outra pessoa humana que está de seu lado, e colocar tudo, mas tudo mesmo, e qualquer coisa, à frente da pessoa humana que está a seu lado.
Ignorando que sem o outro, sem a atenção ao outro, deixamos de ser humanos - e já muito antes de que qualquer robô venha a nos substituir.
E, então, é isto, já vinhamos nos perdendo há tempos - perdendo-nos de nós -, e a tecnologia apenas tornou o processo intensamente mais rápido - trazendo a vertigem.
São escolhas, de que você também participou, no mais das vezes, contribuindo com preguiça e omissão.
A que não tinha direito, claro, porque, caro leitor, desde que Adão comeu a maçã e foi expulso do Paraíso já lhe foi avisado que o sistema seria bruto.
Pois é.
Talvez - talvez -, ainda tenhamos alguma chance.
E, talvez - talvez -, seja melhor mesmo já ir panfletando e gritando pelas ruas.
Sempre tem uns mais desacordados que os outros.