O primeiro turno das eleições brasileiras de 2018, realizado no dia 7 de outubro, deixa como legado mensagens importantes à classe política nacional. Destacam-se, sobretudo, a necessidade de mudança em relação a políticos tradicionais, o sentimento antipetista, a força das redes sociais e o clamor por segurança. Como resultado, percebeu-se o Brasil tomado, em maior ou menor grau, pela onda verde representada pelo fenômeno Bolsonaro.
A demanda por mudanças no cenário político fica evidente pela fragorosa derrota, por todo o território nacional, de nomes como Sarney Filho, Roseana Sarney, Edison Lobão, Eduardo Suplicy, Dilma Rousseff, Lindbergh Farias, Marconi Perillo, Eunício Oliveira, Roberto Requião e Beto Richa. Ainda que não se possa afirmar de forma categórica que a substituição tenha ocorrido por pessoas mais qualificadas em todos os casos, a exaustão social com o político tradicional levou a população a enxergar no desconhecido uma nesga de esperança inexistente no panorama atual.
O sentimento antipetista, já presente nas eleições de 2016 em grande parte do país, foi confirmado ao final da apuração do pleito atual. A imagem do partido parece irremediavelmente marcada pelas condenações por corrupção nos últimos tempos, situação simbolizada pela prisão de sua principal liderança, o ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. O ocaso da agremiação pode abrir espaço para o crescimento, no futuro, do PSTU, como aglutinador da esquerda, projetando a mensagem da utopia e a imagem de suposta candidez que já não são mais vinculadas ao Partido dos Trabalhadores. A estrela vermelha, que resplandeceu por cerca de três décadas no imaginário político nacional, passa a impressão de não ter mais força para brilhar.
A canalização da ojeriza ao PT foi feita, sobretudo, pelo fenômeno Jair Bolsonaro. O candidato à Presidência da República pelo PSL, embora sempre tenha sido integrante do chamado baixo clero na Câmara dos Deputados, utilizou-se de retórica contundente para assumir o papel de principal opositor a tudo o que os petistas representam na visão da população, em parte no campo econômico, mas, especialmente, no aspecto social. A onda verde (em alusão ao verde-oliva do uniforme do Exército e à cor que lembra a bancada ruralista, setores que, ao menos parcialmente, sustentam Bolsonaro) tomou grande parte do país em substituição à onda azul do PSDB, evento marcante nas eleições de 2016. As eleições, com votação expressiva, de Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Major Olímpio, Janaína Paschoal e Joice Hasselmann, além, é claro, da quase definição em primeiro turno em favor de Jair Bolsonaro evidenciam a mudança de composição de forças políticas no atual pleito.
As redes sociais e a necessidade de segurança também foram elementos fundamentais nessa eleição. Quanto ao primeiro fator, a votação de Jair Bolsonaro, apesar de poucos segundos no horário eleitoral transmitido pela TV, bem como a consagração nas urnas de celebridades das redes, como Kim Kataguiri e Arthur Moledo do Val, o “Mamãe falei”, comprova o fenômeno. A demanda social por segurança fica evidente, por exemplo, com a eleição, em São Paulo, do Coronel Telhada e de Kátia Sastre, conhecida por ter atirado, em legítima defesa, contra um homem na saída de uma escola infantil. Simbolicamente, representa a busca da sociedade por ordem, materializada na hierarquia presente em instituições militares, as quais estão desvinculadas, na visão popular, da noção de corrupção que grassa no país.
As eleições de 2018 apontam para o esgotamento do cenário político observado nos últimos vinte e cinco anos de polarização entre PT e PSDB. Buscam-se novas soluções para velhos problemas. A falta de esperança abriu espaço para o surgimento de lideranças que aglutinem setores sociais em torno de alguma ideia, mesmo que esta seja somente a negação da realidade atual. Só o tempo dirá se a escolha da população foi acertada. No momento, resta à sociedade aguardar os próximos movimentos políticos e fiscalizar os representantes, sempre à luz da Constituição da República.