Liderança é um tema estranho. Por um lado, ensinado em diversos cursos acadêmicos e corporativos, com uma imensa rede de mentores e coaches que se dizem aptos a te ensinar as técnicas de liderança somado a inacabáveis livros sobre o tema. Por outro, você conhece algum grande líder que fez treinamento de liderança e por isso se tornou um grande líder?
Isso é comum em temas que misturam arte e ciência, é difícil saber se as qualidades de liderança são natas, derivadas da educação dos pais, desenvolvidas diante das circunstâncias da vida ou que de fato podem ser aprendidas e lapidadas com treinamento.
Enquanto essas discussões de liderança se mantêm inconclusivas, gostaria de trazer uma visão politicamente incorreta sobre o tema, para lhe proteger; isso mesmo, acredito que existe um tanto de argumentos suficientes para que você jamais queira se tornar um líder.
Primeiramente, liderança e fracasso são palavras extremamente íntimas. Como exemplo, Winston Churchill, político britânico, oficial do exército e escritor. Foi o primeiro-ministro do Reino Unido de 1940 a 1945, liderou o país para a vitória na segunda guerra mundial, mas perdeu a sua reeleição. Imagine a humilhação e decepção, ele certamente poderia ter escolhido outros caminhos mais fáceis.
Tentar fazer a coisa certa é parte da deficiência que caracteriza líderes. Em 1996, Shimon Peres o então primeiro ministro de Israel estava em campanha eleitoral contra Beijamin Natanyahu. Porém, existia uma janela de oportunidade para tentar realizar um acordo de paz com a Síria. Ao invés de focar nas eleições, Peres tentou trazer paz ao seu povo, e acabou perdendo as eleições por menos de 1%. Acabou reforçando seu apelido de looser.
Líderes muitas vezes tem um sonho, mas do que adianta ter um sonho se você jamais poderá vê-lo realizado? Este é o caso de Moises e Theodore Herzl. Moises tinha a missão de tirar o povo hebreu da escravidão do Egito e levá-los à terra prometida de Knaan. Porém, somente poderia entrar nesta terra quem não conhecia a escravidão.
Yitzhak Rabin foi um político israelense, estadista e general que lutava para finalizar os conflitos entre Israel e os Palestinos. Conseguiu firmar o acordo de paz com a Jordânia, mas foi assassinado durante uma manifestação contra a violência e a favor da paz, por um judeu-israelense.
Depois da fracassada invasão da Baía do Porcos, uma missão da CIA Americana em solo Cubano, e o posicionamento de mísseis balísticos em solo Italiano e Turco, o então primeiro-secretário da União Soviética, Nikita Khrushchev autorizou posicionar mísseis nucleares em Cuba gerando, talvez, o maior risco de conflito nuclear da história da humanidade. A responsabilidade e frieza de John F. Kennedy e de Nikita Khrushchev estabeleceram - apesar de todas as desavenças e opiniões contrárias dos especialistas - um canal direto de comunicação que salvou milhões de uma catástrofe. Pense nos níveis de stress que sofreram esses líderes.
Essas histórias nos mostram que liderança é cair, levantar e continuar, é fazer as coisas certas independentemente dos resultados, além do possível e, às vezes, provável fracasso. É sonhar e plantar sem necessariamente ver o desejo se tornar realidade ou poder colher os frutos semeados. É ser sozinho e isolado, muitas vezes abrindo mão do que você mais ama para fazer o que deve ser feito, realizando o bem dos outros em seu próprio detrimento. Ser criticado por aqueles que se beneficiam de suas atitudes, muitas vezes sacrificando sua própria saúde ou até a vida.
Se apesar de todas essas justificativas evidenciadas em fatos históricos, você tem coragem de levantar de manhã e enfrentar inúmeros desafios para, de algumas forma, melhorar uma pequena parcela do mundo, você é um líder. Está pronto. Vá a luta; conhecimento a mais não fará mal, mas a falta não o deterá. Porém, se o medo das consequências te intimida, não será o curso, mentoria ou livro que o fará - talvez o que lhe falta é um verdadeiro propósito, uma grande paixão.