A sensação generalizada entre os humanos que ainda não estão completamente anestesiados pela turbulência crescente, é a de que mal-estar, insatisfação, angústia e desalento são os produtos gerados pela nossa época.
Múltiplas e simultâneas tendências prenunciam profundas mutações no convívio: urbanização, globalização, alterações demográficas, climáticas e tecnológicas, todas violentamente disruptivas.
No Brasil cresce a violência, o assassinato de uma geração sobre a qual recairia a responsabilidade de sustentar os idosos, desertificam-se grandes áreas, somem os empregos, aumenta a miséria e a exclusão. E os discursos da política-partidária são de uma indigência que provocaria riso, não fosse motivo para chorar.
Não se espere que Governo, com o “timing” curto e egoísta de cada eleição, cuide de problemas que um povo levado a se conduzir como objeto de tutela declinou de enfrentar.
É mais do que urgente transcender os limites tradicionais e forjar parcerias sustentáveis e inclusivas. O egoísmo de alguns privilegiados tem de ceder espaço para uma constatação inevitável: não adianta construir bunkers, nem blindar carros, nem se refugiar para esconderijos incrustrados em áreas contaminadas. O exemplo do Rio é eloquente: a riqueza mais exuberante e a miséria mais abjeta convivem no mesmo espaço físico. Não é muito diferente a indomável e insensata São Paulo. Favelas disputam território junto ao Morumbi, com vias públicas que a prudência determina evitar, principalmente à noite.
Ninguém está seguro numa sociedade injusta, de exclusão e de desrespeito à dignidade humana. Ou é respeitável uma cidade que suporta mais de vinte mil seres humanos ocupando as ruas, os vãos dos edifícios, os baixios dos viadutos, os canteiros daquilo que um dia já foi praça e hoje é terra devastada?
A missão é árdua, mas é confiada a todos. Não há governo, principalmente nesta Pátria em que o governante só pensa em si, que dê conta da situação calamitosa em que todos nos encontramos. Todos são interessados em encontrar alternativas e o engajamento de todos, sem exclusão, é a única via de fuga do caos que já tomou conta de inúmeros espaços.
As gerações mais novas têm de ser chamadas para atuar ao lado da academia, da Universidade, do empresariado, das entidades do Terceiro Setor, das Igrejas e de seres humanos vocacionados a cuidar do semelhante, que – felizmente – ainda existem e que deveriam servir de exemplo para os detentores de cargo público.
Incluir parceiros, incluir ideias, formular opções para sair desta verdadeira tragédia que é o noticiário da mídia espontânea durante vinte e quatro horas a cada dia, é a única opção. Encarar a verdade, reconhecer o erro e a falência da estratégia deformada de auscultar a vontade do único soberano reconhecido pela ordem fundante: o povo. O destinatário pouco ouvido e sempre desrespeitado. É hora de incluir a vontade de salvar o País em nossa rotina. Incluir na consciência o real compromisso de assumir os deveres e deixar de exigir apenas os direitos.
Nossos netos merecem um Brasil melhor. Cuidemos disso antes que o destino de infortúnios se torne irreversível. E comecemos em casa!