Esse o nome do livro do neurologista português António Damásio, que deveria ser lido por todas as pessoas curiosas. Mas curiosas em relação a questões praticamente insolúveis. Como a realidade da vida após a morte, a urgência de se reconstruir a convivência, a semelhança ou diferença entre o ser humano e as demais espécies vivas.
Aparentemente, o tema é árduo. Como neurologista, Damásio analisa a homeostase, sistema de regulação das funções de um organismo. Porém, parte de um ponto de vista antagônico ao de Descartes, para quem o homem seria um ser eminentemente racional. Para Damásio, razão e emoção regulam juntas a existência e as vicissitudes humanas.
Se a homeostase sempre foi vista como o conjunto de termostatos que servem para equilibrar parâmetros vitais como temperatura, níveis de glicose, íons, balanço de fluidos, etc., não é verdade que a consciência não exerça papel algum nessa regulação. Se há funções que dependem de sistemas neuroendócrinos, outras estão condicionadas por sentimentos.
O ser humano é uma usina produtora de sentimentos. Dor, angústia, sofrimento em contraposição a prazer, bem-estar, sensação de felicidade. Todas essas gamas de tonalidades sentimentais atuam como mensageiras para a homeostase. Os sentimentos são motivadores da ação, elencam prioridades, procuram o caminho mais rápido para satisfazer as necessidades do corpo.
Tudo depende da homeostase. Mente, consciência, cultura, linguagem, religião, moralidade, ciência e artes. Por isso é que biologia não é apenas ciência dura, mas precisa encarar as emoções. E se isso é científico, natural e genuíno à espécie humana e às demais formas de vida, a educação não pode continuar a ser o treino de memorização do conhecimento. Precisa ser um preparo com vistas a administrar as próprias emoções, a compreender a diversidade, a gerar empatia para que as pessoas se entendam, não se agridam.
Todo convívio é um desafio. Mas um desafio que em nada será aperfeiçoado se não houver urgente mutação do ensino/aprendizado. Missão que não tem termo final, mas que deve ser objeto de contínua e insistente perseguição, enquanto o educando estiver nesta etapa existencial. Somente a educação garantirá a homeostase do convívio. Arena de confronto entre egos, idiossincrasias e outras fissuras detectáveis neste ser complexo e instigante que é a criatura considerada racional.