Não é raro ouvir que uma das palavras da língua portuguesa, de mais difícil tradução, é “Saudade”. Por que será que a palavra Saudade seria de difícil tradução? Seria por falta de similar em outros idiomas? Como expressar oralmente o sentimento de saudade em inglês, francês, espanhol, italiano, etc.? Não existe um vocábulo em cada um desses idiomas, que proporcionaria a verbalização deste sentimento?
Parece que esta dificuldade não está propriamente na falta de um vocábulo similar nestes idiomas, mas, no próprio sentimento que é sui generis. De fato, toda vez que alguém alude a este sentimento ou conceito, e necessita traduzi-lo para outra língua, se vê no dilema: Saudade não tem tradução. E quanto ao conceito de Saudosismo, o que dizer a esse respeito? Saudosismo é sinônimo de saudade? Bem! Parece que, quanto à esta indagação, não existe problema maior. Mas...
Todos os que conhecem a língua portuguesa entendem que Saudosismo é diferente de Saudade. Saudade é um sentimento intrínseco do ser humano; Saudosismo é uma manifestação, que embora possa até remeter a uma saudade, é algo extrínseco. No saudosismo, o sujeito elege um fato de seu interesse, o associa a um fato ocorrido e deseja que ambos tenham o mesmo valor. Saudosismo está ligado a um gosto ou a uma apreciação exagerada por coisas ou fatos do passado. Saudade é um sentimento de falta, de um vazio deixado pela história, de difícil preenchimento.
Como se vê, Saudade e Saudosismo, embora tenham concepções distintas, muitas vezes podem se confundir. Para esta breve reflexão sobre o tema abordado, inicia-se com um exemplo ligado a admiradores do futebol, que tentam comparar celebridades do presente com algumas do passado. Como responder à pergunta: Quem seria melhor, Neymar ou Pelé, Messi ou Maradona?
É claro que pode ser feita uma comparação de caráter técnico, como estilo de jogo, preparação física, dentre outros pormenores, porém, esta comparação fica sem sustentação quando não se consideram as condições às quais se submetiam e se submetem estes atletas. Dizer simplesmente que Pelé foi melhor que Neymar ou que Maradona foi melhor que Messi, não faz sentido algum, são atletas notabilizados em diferentes épocas, em realidades distintas.
Pelé e Maradona, particularmente, pertencem a gerações que desconheciam as “Escolas de Futebol”, foram atletas revelados a partir do empirismo, da tentativa e erro, mesmo sujeitos, posteriormente, às orientações de seus treinadores. Assim como este exemplo, poderiam ser citados outros, em diferentes circunstâncias, porém, o objeto desta reflexão é a Educação, o Ensino e a Escola.
A Escola não é única instituição envolvida na Educação do ser humano. Juntamente com a Escola está a Família e, para uma grande parcela da população brasileira, inclusive a Igreja. Além destas, outras instituições também chegam a participar, ora mais e ora menos, de acordo com critérios estabelecidos por cada uma delas. Deste modo, analisar apenas a Escola contemporânea, avaliando-a com paradigmas do passado, pode ser comprometedor e se chegar a um resultado sem benefícios para a geração atual.
Para uma avaliação profícua com vistas a projetos exitosos, não só a Escola, mas também a Família e a Igreja devem estar atentas a não perderem princípios e valores, a não negociar suas identidades. Contudo, tais princípios e valores devem ser defendidos à luz do presente, em consonância com a realidade contemporânea.
A frase, muito conhecida por cristãos reformados, pronunciada pelo teólogo suíço Karl Barth, (1886 – 1968) de que “O cristão deve estar sempre com a Bíblia em uma de suas mãos e o jornal do dia, na outra”, pode ser entendida como uma metáfora inclusive por pessoas que não professam o cristianismo. Seu significado é muito consistente: Princípios e valores de uma sociedade são inegociáveis, porém, métodos e estratégias de ensino devem acompanhar a realidade contemporânea.
Pode-se ter Saudade da Escola de antigamente, por uma série de razões, mas, o Saudosismo pode ser comprometedor. Que bom, que a Escola de hoje é diferente da de antigamente! Se fosse igual, seria impossível educar a sociedade atual. Escola, Família e Igreja, para quem assim o deseja, são três instituições que devem agir em cumplicidade, pois o educando é um só: aluno na escola, filho na família e membro na igreja, são a mesma pessoa.
Mesmo diante de diferentes cosmovisões entre membros da nação, os princípios e valores culturais são inegociáveis, assim como a defesa de sua identidade, por isso, a reflexão aqui proposta não sugere quebra de paradigmas consolidados, e sim uma revisitação contínua da Escola, em face da necessária atualização do Sistema de Ensino Nacional, para fazer frente às exigências do mundo contemporâneo.