Talvez não exista nada mais engessado do que o setor público brasileiro. Grandes ineficiências, corrupções e inúmeros outros problemas são filhos diretos de uma má gestão pública, que muitas vezes é mais preguiçosa do que corrupta.
Nosso setor público é inchado, cheio de mecanismos de contratação ruins que trazem a cargos chave pessoas incompetentes, e muitos desencontros entre bons profissionais e cargos errados para esses. Na maior parte das vezes, nosso problema é o mal feito, e não o errado, feito com segundas intenções.
O Brasil paga por essa preguiça da máquina pública há anos. Não há verbas o bastante, quando na verdade há muita verba. Não há profissionais, enquanto há muita demanda de serviço. Conseguir material para aula em uma instituição pública muitas vezes sai do bolso de professores, porque sem isso aulas não seriam dadas e novos profissionais não seriam formados com conhecimento mínimo.
Por vezes falta medicamento em uma UBS ou hospital, enquanto há sobras em outro. Um dos piores exemplos é o dos Correios, uma instituição falida que decreta, a cada dois anos ao menos, problemas financeiros severos, greves, etc, e está em um mercado monopolizado, sem qualquer sombra de concorrência, onde cobram caro, mas jamais conseguem ser eficientes e ter como se sustentar.
Muitos podem pensar que alguém ganha com isso, que há a famosa “corrupção brasileira” envolvida. A verdade é que isso pode ser especulado, mas não descarta o fato de que o maior problema é a má gestão.
Apesar disso tudo, existe uma luz no fim do túnel, e uma pequena chama da inovação está ocorrendo em algumas empresas desse setor, como por exemplo IGov SP, que é um órgão com intenção de estimular a criatividade e combater a escassez de recursos financeiros para otimizar os serviços e a gestão no Estado de São Paulo. A iniciativa visa fazer com que a gestão do conhecimento seja um aspecto crucial para promover a inovação nas secretariais estaduais. Isso é possível por meio da troca de experiências, em que os servidores públicos podem usar um blog, um vídeo do YouTube e um site para relatar ações bem-sucedidas.
O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) é outro exemplo de como é importante investir na inovação no setor público. Ela foca em aperfeiçoar os processos organizacionais, com foco direcionado para as inovações tecnológicas e automatização de algumas atividades que permitiram expandir a sua produtividade.
Além disso, foram adotados mecanismos para seguir os padrões de procedimentos adotados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Essas ações provocaram mudanças no modelo de comunicação entre os servidores do órgão e contribuíram para a melhoria dos serviços prestados, tornando mais ágil o atendimento às demandas do público-alvo.
Também podemos citar o case do Mato Grosso do Sul, o Cheff Escolar, que utiliza a tecnologia e a inovação para melhorar a gestão das merendas escolares. Isso é possível graças ao desenvolvimento de uma plataforma que calcula automaticamente o repasse de verbas para os colégios, considerando as informações do censo escolar do ano anterior.
Outra vantagem engloba a elaboração dos cardápios. A ferramenta sugere as refeições com base nas preferências alimentares dos estudantes, contemplando também os que possuem restrições na alimentação. Ela também monitora a execução dos contratos e a prestação de contas, porque acompanha as ações realizadas em cada escola e tem informações sobre as licitações em andamento.
Como vimos, existem alguns lampejos no setor público de inovação, eles são muito poucos em comparação com outros países como a Inglaterra, EUA, Chile ou Austrália, que focam boa parte dos seus recursos públicos para gerar inovação e com isso baixar custos e procuram ter uma gestão cada vez mais eficiente e eficaz.
Ainda é tempo para reverter esse cenário e nós temos o potencial para isso, basta apoiarmos essas iniciativas para essa pequena chama de inovação, se torne uma labareda cheia de energia e entusiasmo, a qual não se apagará mais!