Nossos filhos não são nossos filhos. Eles são filhos dos desejos que a vida tem de si mesma. Eles vieram através de nós, mas não são nossos, ainda que possam viver conosco não nos pertencem. Podem nos dar todo amor que já nos deram e continuam nos dando, mas eles são regidos e monitorados pelos pensamentos que têm. Nós podemos reservar-lhes os melhores dos cômodos de nossas casas, mas jamais iremos poder abrigar suas almas porque essas residem na casa do amanhã, que nem mesmo em sonhos nos será permitido visitá-los. Talvez possamos nos empenhar para ser como eles, mas jamais poderemos fazer o que eles fizeram porque a vida não retroage e jamais o passado novamente baterá em nossa porta. Seremos sempre o arco pelo meio do qual eles lançarão suas flechas absolutamente vivas. Lançadores de flechas veem o alvo sobre o caminho do infinito e com toda potência que têm dobram o arco a fim de que suas lançadas flechas partam velozes para um mundo distante.
Que as flechas, por estarem nas mãos do arqueiro sejam para eles suas felicidades, porque, assim como ele ama a flecha que dispara, ama também o arco que permanece sólido como o astro mãe no infinito do sistema solar. Por tudo isso nossos filhos têm a santa liberdade de amar e a oportunidade de projetar seus infinitos. Deixemos que eles voem na velocidade de meteoros e jamais reclamemos os seus retornos. Eles irão nos querer e nos amar sempre e também construirão seus lares onde terão a oportunidade de fincarem as bandeiras de suas vidas. Deixemo-los livres como livres também fomos. A vida não passa de uma viagem de sobe e desce, agradável ou nem tanto.
Quando chegamos ao mundo encontramos tudo novo, muita gente nos rodeando todas as horas, nos acariciando até pensamos que esse momento mágico não tivesse fim. Infelizmente esses espaços de tempo não são verdadeiros. Muitos deixarão de fazer parte da nossa orquestra sem mesmo nos avisar, outros virão tocar seus instrumentos e farão parte de nossas vidas. Nossos filhos queridos que sempre imaginamos nunca poderem partir podem partir a qualquer momento para suas novas aventuras bem antes do que havíamos previsto. Uma pena, mas assim são as regras de convivência.