A ciência oscila em relação a vários hábitos, notadamente em relação àquilo que consumimos. Uma hora o ovo é o vilão, outra hora ele é reabilitado. Assim ocorre com o vinho, com a carne vermelha, com os adoçantes, com o açúcar. Quanto a este, parece prevalecer a ideia de que “todo pó branco é nocivo”. Incluam-se açúcar, cocaína e farinha de trigo no pacote.
O cafezinho está numa fase boa. Ele faz bem. É usado como vigilante de nossa atenção. Estimula, aumenta a sensação de bem estar, de confiança, de entusiasmo pela vida.
Ao menos é isso o que me faz consumir muitas xícaras de café por dia. E elogiar a tendência contemporânea de produzir cafés especialíssimos. Como seria bom que São Paulo retomasse a sua vocação de verdadeira “nação cafeeira” e exportasse para o planeta a qualidade de espécies singulares, fazendo jus àquilo que hoje se chama “gourmet”.
Pouca gente se lembra de que, depois de terem se disseminado da Etiópia e do Iêmen para o mundo islâmico nos séculos XV e XVI, o café e as casas de café pela primeira vez foram proibidos pelo govenador de Meca, Khair Beg, em 1511. Já o Papa Clemente VII, que adorava café, exorcizou a proibição em 1600. Trinta e sete anos depois, introduziu-se o café na Grã-Bretanha, o que foi considerado ameaça aos esforços para promover o consumo de chá. Este havia sido adotado como antídoto ao alcoolismo.
Tanto sucesso fez o café que ele foi proibido para viagem e o rei Carlos II emitiu uma proclamação para a supressão das casas de café, em 1675. A cerveja também sofreu concorrência do cafezinho. Frederico, o Grande, da Prússia, preocupou-se que ele pudesse reduzir a venda do produto prussiano – ali também se tomava cerveja quente...- e proibiu o cafezinho. Curiosamente, empregou “farejadores de rua”, para multar pessoas com cheiro de café.
A Suécia vetou a importação de café e editou pelo menos cinco decretos entre 1756 e 1817. Mas o café venceu. Hoje, o mundo inteiro saboreia café. Só que a maioria importado da Colômbia, da África e de outros países que substituíram o Brasil como o maior produtor.
Se os agricultores descobrissem que um café de qualidade rende mais do que as commodities da moda, talvez conseguíssemos retomar um lugar que já foi nosso e cedemos, iludidos por cantos de sereia.