Numa bela manhã de abril, quando um professor de “Introdução ao Direito” adentrou na sala de aula, a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado no lado direito da classe, bem à beira da porta e lhe disse: - Como te chamas? Humildemente o aluno respondeu: - Chamo-me João, meu senhor. – Saia da minha aula e não quero que voltes nunca mais. Entendeu? – gritou o desagradável professor. João ficou desconcertado e num desalento infinito. Perdeu-se no tempo. Indignado, levantou-se, recolheu seus pertences de escola e cabisbaixo saiu da sala. Todos os demais companheiros ficaram assustados e indignados com a atitude do mestre, porém ninguém se prontificou a falar nada. - Agora sim! - e perguntou o professor - para que servem as leis?...
Os alunos continuavam assustados, entretanto pouco a pouco começaram a responder as perguntas do professor. O aluno que estava sentado ao lado de João disse: - Para que haja uma ordem em nossa sociedade. - Não! - respondeu o professor. - Para cumpri-las. - Não! - Para que as pessoas erradas paguem por seus atos. - Não!! - Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?! - Para que haja justiça - falou timidamente uma garota. - Até que enfim! É isso... Para que haja justiça. E agora, para que serve a justiça? Perguntou o mestre. Todos começaram a ficar incomodados pela atitude tão inoportuna e grosseira. Porém, seguiram respondendo: - Para salvaguardar os direitos humanos... - Bem, que mais? – perguntou o professor. - Para diferençar o certo do errado... Para premiar a quem faz o bem... - Ok, não está mal, porém... Respondam agora a minha nova pergunta: agi corretamente ao expulsar o João da sala de aula?... Todos os alunos ficaram calados, ninguém respondia absolutamente nada. - Quero uma resposta decidida e unânime! - Não!! – responderam todos a uma só voz. - Poderia dizer-se que cometi uma injustiça? - Sim!!! - E por que ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? - Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais! - Vá buscar o João - disse, olhando a todos fixamente.
Naquele dia recebeu-se uma lição mais prática no curso de Direito. Quando não defendemos nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia. As formas e estratégias de participação na sociedade são de uma extensão incalculável. É importante que todos estejam sempre conectados com aquilo que é coletivo. A individualidade é pobre, a coletividade é mais abastada. Não somos tão fortes quanto podemos imaginar, nem tão fracos como tememos ser. Já não temos o passo rápido como gostaríamos e nem ficaremos parados como poderíamos. Aprendemos a nos equilibrar nos extremos. Se não temos o direito de escolher todos os acontecimentos, vamos nos posicionar de acordo com os fatos. No final, o que nos poderá mover não será tão forte o suficiente para nos derrubar, mas será intenso o bastante para nos fazer ir muito mais além.