Numa manhã abençoada há algum tempo atrás, abri uma agenda para verificar as tarefas do dia e me deparei com uma pincelada de palavras de meu escritor favorito, Rubem Alves, com quem tive o prazer de conviver numa de suas palestras na cidade de Schmitt. É assim mesmo que se escreve o nome desse Distrito. Esse escritor, de uma simplicidade ímpar me deu atenção que talvez eu não merecesse pela disparidade de nossas culturas. Fiquei muito feliz por poder ouvir dele alguns de seus mais importantes depoimentos. Bem, o texto dele que li na agenda era esse que dei o nome ao meu artigo – Gaiolas ou Asas. Dizia ele: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”. As que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono.
Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. Essas são palavras do meu ídolo literário Rubem Alves. Aliás, eu já faço isso desde que me tornei pai. Meus filhos foram encorajados a voar, a vencer quando essa condição fosse a melhor opção. E venceram, felizmente. Há trinta anos ministro aulas fazendo dos meus alunos pássaros livres. Felizmente, alguns já deram voos a países de outros Continentes. Isso me enche de orgulho porque me sinto lisonjeado e de missão cumprida. Uma pena, não são todos os alunos que se propõem a voar, alguns preferem a gaiola, talvez pela educação que receberam fora da escola. Mas isso não elimina o meu propósito de continuar lutando para que todos que por minhas mãos passam, alcem voos intermináveis. Não tenho como fugir dessas minhas vontades porque meus alunos são filhos também. Aliás, a maioria dos professores que exerce a santa profissão de ensinar o faz por predestinação. Meu leitor, se você soubesse como o coração da gente bate forte quando nossos alunos obtêm sucesso, você não imagina.
Dia desses encontrei um aluno na rua e ele parou para me cumprimentar, dizendo: “professor, eu precisava te encontrar para te agradecer”. A orientação que me destes quando eu estava confuso em qual caminho deveria trilhar, foi essencial para o meu sucesso. Estou muito feliz onde trabalho hoje e isso foi orientação sua. Naquele instante suas palavras bateram fundo no coração deste que escreve e precisei sair rápido do encontro para que ele não visse duas lágrimas descer minha face. Mas essa é e será sempre minha missão, porque alunos sob minha responsabilidade serão eternamente pássaros batendo asas.