Inicio este texto fazendo uma metalinguagem do seu título: “Luto na educação”. Ao contrário do que o termo sugere, explico: luto como verbo e não como substantivo. Como educadora há mais de trinta anos, embora enlutada, insisto: luto na educação, crendo na sua função social, altamente relevante para a humanidade.
Vivemos dias sombrios na seara educacional, onde assistimos atônitos a barbárie provocada por mentes insanas que, ao acaso, decidiram ceifar vidas inocentes, que talvez nem fizessem parte do círculo de convivência.
Cenas como essa me fazem relembrar a manhã de 7 de abril de 2011, quando me deparei com os diversos meios de comunicação relatando a triste e trágica notícia do Massacre de Realengo, ocorrido numa escola municipal do Rio de Janeiro, quando doze alunos foram executados de forma brutal.
Esta não é uma questão nova em outros países, onde já existem relatos de tragédias semelhantes envolvendo instituições de ensino, que repercutiram no mundo afora, trazendo comoção e perplexidade.
Em abril de 1999, ao assistir uma matéria televisiva que mostrava reiteradamente uma tragédia ocorrida nos Estados Unidos, conhecida como “O Massacre de Columbine” fiquei muito preocupada, enquanto diretora de escola, pois é comum no Brasil fatos negativos que tomaram grande visibilidade se repetirem aos quatro cantos do país.
Infelizmente faz parte da cultura brasileira importar e repetir comportamentos inadequados de outros países, inclusive os termos utilizados para nomeá-los, como bullying e cyberbullying,
Diante desses fatos, ressurge a pergunta: o que leva um indivíduo cometer tal atrocidade? O que que teria motivado aqueles jovens a praticarem tal delito? Desestrutura familiar, depressão, drogas, fanatismo religioso, deboche no ambiente escolar, jogos violentos, uso indiscriminado da internet, alguém ou alguma instituição falhou? Passamos boa parte do nosso tempo tentando desvendar o indesvendável, justificar o injustificável. E se invertêssemos a questão: porquê tais atrocidades estão chegando às instituições?
Evidente que não encontraremos uma resposta precisa, tendo em vista a diversidade de subculturas juvenis que transitam pela sociedade; mas, talvez encontraremos caminhos (certos ou incertos) que juntos, comunidade escolar e sociedade, possamos trilhar.
Creio que um deles é, antes de coercitivo, o do amor. O amor recíproco, de via de mão dupla: família e escola. Resgate de valores. Antes as famílias viam a escola como templo do saber, lugar seguro e sagrado. Em contrapartida, a escola atual, em especial a pública, é vista e falada por muitos com desprezo. Há um jogo de vítimas e culpados; buscam-se culpados pelas falhas na aprendizagem e pelo desrespeito e rupturas das normas de condutas sociais.
Não são raras as vezes em que vimos instituições e seus educadores expostos e fragilizados, por uma mídia que desconsidera todo trabalho positivo nela realizado. Muitos dizem que a escola já não é tão boa, que está diferente. Claro que mudou, e para melhor, pois a democratização inseriu no sistema formal de ensino pessoas que antes não tinham o direito de frequentá-lo. O que era uma reinvindicação passou a ser um direito e um dever.
Não seria, pois, o momento de intervirmos nessa realidade, desviando o foco negativo e destacar outras formas de nos reportar à escola e todos unirmos forças para resgatar sua imagem positiva e seu poder transformador, reforçar o papel legal e ético que a instituição escola exerce na sociedade?
Se todos trilharem o mesmo caminho, o do bem, certamente as famílias passarão a ter bons olhos para a escola e reforçarão nos filhos a credibilidade que a instituição tem de educá-los para o bom e para o bem. É tempo de deixarmos de lado as culpabilizações e, juntos, família, escola, andarem na mesma direção.
Para isso, precisamos do apoio da sociedade e da mídia, para resgatarmos a imagem sagrada da escola como templo do saber, para mostrarmos os bons trabalhos que são desenvolvidos nas Unidades de Ensino. Temos que trilhar o caminho inverso.
Claro que isso não significa desonerar o Estado da sua incumbência legal de promover a segurança nas escolas, resguardando a integridade física e a vida das pessoas que ali estão.
Demos, portanto, visibilidade a essa escola democrática que a todos acolhe. Não para classificá-las como melhores ou piores, mas para propagar a sua importância na formação do cidadão, no seu engajamento pela equidade social, ou seja, empregar a importância midiática na valorização das virtudes da escola e ressaltar menos comportamentos nefastos praticados em outros países. Aproximar famílias e congregar instituições parceiras para vê-la no pódio da vitória.
Por isso, eu luto. Alie-se a este trilhar, você pode mudar o rumo e o final.