O continuo crescimento da economia moderna baseia-se na confiança que temos nos tempos futuros e no ciclo capitalista de reinvestimento em sistemas produtivos. Mas para isso ocorrer conforme nossos anseios, o sistema produtivo necessita de matérias-primas duradouras, fontes de energia renováveis, habilidades tecnológicas, ou seja, a imersão absoluta na ciência. De sua lista de amigos, quantos realmente entendem de assuntos como física nuclear, mecânica quântica, macroeconomia ou bioengenharia? Acredito que poucos, ou até mesmo nenhum. Isso ocorre porque grande parte da população ainda reluta em aceitar a ciência como aliada, principalmente pela sua linguagem difícil, de certa complexidade matemática. Entretanto, a ciência exerce grande influência em nossas vidas, o presidente de um país ou um ditador de outro não estão preocupados em dominar assuntos como física nuclear, mas compreendem muito bem o poder que uma bomba nuclear causa quando detonada, e querem esse conhecimento disponível em suas mãos. Não se trata apenas de obter conhecimento e atestar sua veracidade, o fato é que conhecimento é poder, e poder no mundo de competição global faz toda a diferença.
Do ano 1500 aos dias atuais, a sociedade testemunhou mudanças dignas do poder humano. O homem apostou, no aumento de suas capacidades ao se dedicar no campo de pesquisas científicas, e acertou. Entre suas conquistas podemos citar a marca dos pés do Neil Armstrong na lua, a descoberta de micro-organismos, Newton revolucionou como suas equações publicadas no livro “Princípios matemáticos da filosofia natural” em 1968, Bernoulli mostrou a importância dos seus estudos com a Lei dos Grandes Números, podemos citar também o surgimento da primeira anestesia em meados do século XIX com o uso de clorofórmio, éter e morfina. O homem conseguiu até mesmo dividir o átomo e hoje é capaz de produzir bactérias que podem aniquilar parasitas, fabricar biocombustível ou produzir medicamentos. A Revolução Científica, surgiu somente quando a humidade percebeu que não tem as respostas para as suas mais difíceis perguntas.
Quando ouvimos as vozes de nossa curiosidade, gritando insistentemente que haviam muitas coisas importantes para descobrirmos, apenas quando admitimos nossa ignorância e aplicamos nossos conhecimentos em estudos e pesquisas, conseguimos usufruir as descobertas cientificas. É que ao longo da história, o ser humano estava tão concentrado em conflitos locais e brigas por território, que sequer pensava em descobertas científicas como nos dias modernos. Enquanto profetas e poetas afirmaram há anos que estar satisfeito com o que se tem é mais importante do que obter aquilo que o homem deseja, as descobertas através da ciência mostravam que a humanidade conseguiria resolver seus maiores desafios explorando o conhecimento e não se conformando com o comodismo profético ou poético pregado pela filosofia. Esta ambição benéfica fortaleceu-se através de um ciclo continuo, onde recursos geram pesquisas, e pesquisas geram poder, traduzido em valor agregado para as maiores industrias mundiais.
A essência da ciência de nossos dias, é aceitar abertamente a nossa ignorância perante as questões de maior relevância que afligem nosso mundo, é uma busca incessante por informações em diversos campos. Em momento nenhum, Darwin afirmou ser “O biólogo incontestável” e ter descoberto o segredo da vida para sempre. Mesmo depois de séculos de pesquisas, acadêmicos e cientistas admitem não compreender totalmente como o nosso cérebro é capaz de gerar consciência. Os melhores físicos e defensores da teoria do Big Bang são hábeis ao falar dela mas se entram em frustração ao tentar explicar o que a provocou. É trabalhoso, senão impossível, explicar como a Teoria Geral da Relatividade pode dar bons resultados aliada a mecânica quântica. Desde os primeiros anos de estudo, jovens das áreas de exatas, humanas ou biológicas são desafiados a ir além dos seus mestres, e mesmo após tantos avanços, o primeiro passo é estudar e entender o que os sábios do passado disseram ou escreveram, deixando clara sua própria ignorância independente dos grau de conhecimento já adquirido.
Admitir nossa ignorância nos transforma em seres dinâmicos e indagadores, propícios para o que a ciência deseja, e somente assim podemos expandir o conhecimento anterior. Ser consciente de nossa insignificância perante um universo de possibilidades, permite aumentar nossa percepção com relação ao funcionamento do mundo, permite impulsionar nossa habilidade de criar novas tecnologias. Até o século XVI nenhum ser humano havia conseguido a proeza de dar uma volta ao redor do mundo, somente em 1522 Magalhães completou sua viagem com este objetivo, levou quase 3 anos e retornou à Espanha com boa parte de sua tripulação falecida, após navegar por mais de setenta mil quilômetros. Hoje, conseguimos realizar essa viagem de maneira tranquila e segura em 48 horas apenas. Como Cristovão Colombo, reagiria ao ver um navio de guerra moderno capaz de dizimar em poucas horas a Niña, a Pinta e a Santa Maria? Talvez todas as bibliotecas medievais com seus incontáveis pergaminhos pudessem ser armazenadas em um laptop disponível no mercado de hoje.
Em resumo, o avanço cientifico irá existir e florescer enquanto existir uma necessidade latente de ideologia da curiosidade dentro de nós. A ciência não tem poder para estabelecer suas próprias razões, vontades e necessidades, nós a dominamos. A ciência pouco sabe o que fazer com as descobertas que nos oferece, cabe a nós compreender seu uso nos diversos campos explorados pela humanidade para expandir nossos recursos, compreender o que é bom, entender aquilo que é importante. Devemos nos convencer e aceitar que estamos vivendo em uma era de técnica, onde ciência e tecnologia nos dão as respostas para as nossas mais difíceis perguntas. Mas assim como estudantes não aceitam ser fustigados por professores, devemos questionar sempre para adquirir mais conhecimento, pois certamente, até agora só conquistamos uma fragmentada e microscópica porção das oportunidades que ainda podem se concretizar.