Que me desculpem os corintianos (eu sou um deles), mas o título do Corinthians foi um mau negócio para o futebol. Esta fórmula de jogar do time, com retranca e dando preferência ao resultado, somente a ele, mesmo que saia com vitórias em cobranças de pênaltis. O Corinthians venceu vários times inferiores nestas condições. Que feio. O problema é que este futebol medíocre, apesar de vencedor, reflete o nosso tempo, a nossa vida. Somos medíocres, vivemos tempos medíocres. Em tudo.
Não há mais irreverência, tudo é previsível. O autor dos livros Sapiens e Homo Deus, Yuval Noah Harari, lembra que quando o homem pisou na lua, em 1969, uma avalanche de previsões se fez e ninguém previu a internet. Previu-se quase tudo, até a colonização de Marte, mas ninguém imaginava que seria criada a internet. O que isso tem a ver? Muito. Hoje é possível prever o que acontecerá no mundo com muito mais chance de acertar do que antigamente, Por que? Porque somos previsíveis e sendo previsíveis, somos medíocres.
Na cultura não se vê mais os grandes rompimentos com o status quo, com o enfadonho. Que saudade do Asdrúbal Trouxe o Trombone, do Rei da Vela, do Tropicalismo, de Glauber Rocha com sua genialidade, dos festivais da Tupi e da Record, do toque genial de João Gilberto, criando a Bossa Nova, dos dribles de Garrincha e da genialidade de Pelé. O que temos hoje? Mediocridade. Parece que Carille nos orienta a fazer tudo na vida. Orientando sempre a retranca. Os mais velhos lembram com orgulho da Copa do Mundo de 1970, mas ninguém esquece a de 1982, quando perdemos para a Itália, mas encantamos o mundo com nosso futebol arte, matreiro, genial. Em 1978, com Claudio Coutinho no comando, a seleção brasileira não perdeu uma partida sequer e foi aclamada com o ridículo título de “campeão moral”, dado pelo próprio Coutinho. Tudo bem que houve uma escandalosa manipulação para que os argentinos fossem campeões em sua casa, mas o Brasil quando não empatava, vencia por 1 x 0, com uma ou duas exceções. Ninguém se lembra desta copa.
Será que é uma fase que terminará? Até os sertanejos estão achando as suas músicas chatas. Mas, o que virá? Olhando para o futuro, eu, muito míope, pouco enxergo. Espero que os de olhos mais aguçados possam ver algo melhor, uma geração menos previsível, talvez até mais anarquista, com ideias para fazer a gente arrepiar, mas aplaudir, curtir e gritar. Se der, até vaiar, pois a vaia faz parte do memoriável.