“Por que se aprende tão pouco nas escolas brasileiras?” é a epígrafe do livro do jornalista Daniel Barros, cujo título é exatamente o desta crônica: “País Mal Educado”.
Ele começa exatamente a derrubar mitos do senso comum. Embora o discurso recorrente seja a gravidade da situação educacional brasileira, a qualidade do ensino desmerece um debate consistente.
Os temas periféricos – disciplina dos alunos, uniforme, cardápio da merenda, quadra poliesportiva coberta, uso de computadores, suposta doutrinação ideológica ou inclusão de disciplinas – são reiteradamente invocados. Mas a questão central deve ser: a criança e o adolescente brasileiro está aprendendo?
O Brasil conseguiu, em tese, a universalização da educação fundamental. O aluno frequenta a escola. Entra na sala de aula. Mas aprende pouco, muito pouco ou quase nada.
Não é privilégio da escola pública, onde estudam quarenta e três milhões de alunos. Os oito milhões e oitocentos estudantes das escolas privadas também estão longe do ranking Pisa, avaliação trienal realizada pela OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
Sustenta Daniel que a esquerda tecla a remuneração dos professores, enquanto a direita prefere o bônus de mérito. Ocorre que isso não resolve a deficiência do ensino e aprendizado. Os professores não sabem exatamente como melhorar a absorção do conhecimento de seus alunos, porque eles mesmos não foram bem-educados. Este, para o autor, o calcanhar de Aquiles da educação brasileira: a qualidade do professor.
O fator de maior relevância no aprendizado do aluno é a habilidade de quem ensina. Militam os docentes numa das carreiras mais desvalorizadas de nossos dias. Nenhuma faculdade os ensina a ensinar. Não sabem como ensinar, mas em compensação, também não dominam o conteúdo da disciplina da qual se desincumbirão em sala de aula.
Daniel Barros defende algo que também eu partilho: o erro de substituir o viés prático do Curso Normal pela graduação em Pedagogia.
Na verdade, a educação serve para slogans da política, assim como a “Pátria Educadora”. Onde foi parar? E não merece da família, do governo e da sociedade, a atenção da qual ela não pode prescindir.
Estamos nos descuidando muito dessa deficiência que já nos causa muito mal e continuará a causar, só que em escala geométrica.
Parece que não há como deixar de dar razão a Darcy Ribeiro que, em 1984, escreveu o seu livro antológico, cujo nome é eloquente e autoexplicativo: “Nossa escola é uma calamidade”.