Recentemente, quando da necessidade de estar em uma agência bancária na cidade e me dirigi ao totem de senhas, encontrei em minha frente um senhor que, sem qualquer inibição, retirou duas senhas, uma da categoria preferencial (idoso) e outra da categoria normal. Retirei minha senha (a de idoso) e seguimos juntos para o espaço de espera. O local estava repleto de clientes, de todas as faixas etárias, calma e educadamente esperando por seu atendimento comandado por sistema eletrônico sequencial e qualificado.
Passado algum tempo, tem início o processo de chamamento que se conduz por uma das categorias, certamente a que continha maior número de clientes que antes chegaram. O senhor, aquele que retirou duas senhas, mantinha-se atento aos monitores de chamada. Até que um jovem, aparentando seus 18 anos ou até menos, senta-se ao lado dele. O senhor pede para observar o número da senha que o jovem havia conquistado e diz: “puxa, seu número é bastante alto”.
Passados alguns poucos minutos tem início o chamamento da categoria preferencial, aquela em que o senhor havia retirado uma das senhas e a dele é chamada (por sinal uma antes da minha). Imediatamente, o senhor levanta, seleciona a senha geral, entrega ao jovem e diz: “agora, com esta senha, você vai passar na frente e será rapidamente atendido”. Segue seu caminho para os caixas e deixa o jovem em dúvida.
Em curtíssimo espaço de tempo o senhor sai dos caixas e se vai, tranquilamente após ser atendido com sua senha especial de idoso. Sou chamado e vou ao caixa e comento o fato que observei. O caixa, de imediato nos diz: “é, senhor, muitas pessoas fazem isto e atrapalham nosso atendimento por senhas que chamamos por diversas vezes, como manda o processo, e não existem tais pessoas”.
Após ser atendido, volto para o espaço de espera e vejo, para minha alegria, que o jovem não seguiu a orientação do senhor, aquele idoso que aprendemos desde criança a respeitar nas falas de nossos pais: “sempre respeite os mais velhos”.
O jovem, ainda que não tivesse sido observado, avaliado ou impedido de sua ação com uma senha que, de fato, não era a sua, agiu como um cidadão consciente e responsável.
O senhor idoso, protegido pelo Código de defesa dos idosos, respeitado por seus cabelos brancos que caminhava cambaleante pelos anos acumulados, pela vida percorrida, quiçá com algum esforço adicional comum em nossa sociedade, não assumiu sua responsabilidade de cidadão aliás, reproduziu a atitude de um povo que aprendeu, inclusive por atitudes de seus líderes (aqui fortemente influenciados por políticos e gestores públicos) que consideram a lei de Gerson como a justificativa de seus atos insanos. Levar vantagem em tudo é o lema. Este mesmo senhor reclamará, certamente, quando a vaga de um espaço para idosos for ocupado por outra pessoa, quando for vítima de seu próprio ensinamento e for questionado por seus semelhantes. Mas, já terá ensinado os termos da lei ora a lei!!! Não é? Observação final, este relato expressa fato verídico que vivemos em Votuporanga, em uma agência bancária.