Sabe quando a gente quer saber melhor como funcionam as coisas do nosso dia a dia? Pois é, eu tenho apenas 11 anos e muita coisa que acontece a minha volta tem me parecido estranha. Talvez porque ainda nessa idade tenho poucos argumentos para definir situações que acontecem a meu redor e também comigo mesmo. Numa bela manhã de domingo, o horário eu não me recordo, meu pai, como sempre, quieto num canto da sala, degustava ainda o café da manhã. Esperando talvez, que o sol iluminasse melhor o dia lá fora para fazer o que sempre gostava – acariciar as plantas de casa, conversando com elas e lhes dando o amor que tanto precisam. Aproximei-me dele recebendo seu beijo e seu abraço matinal, energia que sempre fez de mim um super-homem o resto do dia. Pai, eu posso te perguntar umas coisas que sinto vontade de aprender? – Claro filho, afinal é a mim que você deve recorrer quando sua imaginação tem sede de saber.
O que foi meu filho? Responde o filho - Esta semana a diretora da escola adentrou a minha sala de aula sem mesmo pedir licença para minha professora e disse ao meu colega Pedrinho que ele fosse conversar com ela. Todos da sala estranharam a atitude da diretora, mas dizem que quem manda na escola é ela. O senhor acha certo isso? Não, meu filho. Não acho uma atitude correta. Têm pessoas que mesmo adultas não se portam como deveriam. Ela necessitaria de pedir licença à professora para poder adentrar a sala de aula. A professora tem total responsabilidade pela sala que instrui e nem mesmo o Presidente da República tem o direito de entrar numa sala de aula sem fazer referência ao responsável que cumpre o dever de educar. Pai, não era isso mesmo que eu queria perguntar, enfim o senhor acabou me ensinando um pouco mais. Eu queria mesmo era lhe dizer o que ela foi fazer lá, se era legal, humano e decente. Após ela entrar na sala dirigiu-se ao meu colega Pedrinho e lhe disse: Eu preciso que você se dirija até a diretoria dentro de vinte minutos para lhe passar algumas informações. Ok, senhora diretora, lá estarei nesse horário. Minutos depois o Pedrinho pediu licença à professora e foi atendê-la. Logo depois veio à sala onde estávamos recolher seus materiais escolares se despedindo de todos os seus coleguinhas e dizendo que não voltaria mais à escola. Todo mundo ficou triste com a notícia e eu não me contive em ir até à diretoria e perguntar por que meu colega se sentiu tão humilhado diante de todos nós. A diretora me disse que seu pai não havia pagado a mensalidade escolar e ele não poderia permanecer na sala de aula. Posso te dizer uma coisa pai? – Claro, respondeu o pai. – Eu pedi licença à professora e fui ao banheiro enxugar minhas lágrimas. Como pode acontecer isso com um coleguinha tão aplicado como é o Pedrinho!! Ele sempre tira nota máxima em todas as avaliações que a professora faz. É um menino aplicado, educado e tem um coração de uma nobreza infinita. Pai será que em todos os países as atitudes das pessoas são também assim? Responde o Pai. – Não filho. Esses absurdos acontecem em países sem reputação, sem escrúpulos, sem valorizar aquilo que deveria ser valorizado. Uma criança como seu colega Pedrinho deveria ter escola gratuita. É esse tipo de aluno que o país precisa para governá-lo no futuro. Não essa corja de bandidos que dominam o país escravizando a população e tirando-lhes o direito à educação, à saúde e à segurança. Esses vermes que dominam a Nação, surrupiando o dinheiro público que nós recolhemos de impostos o fazem através de licitações escandalosas e de manobras financeiras, juntos com os não menos inescrupulosos banqueiros. São cânceres que serão extirpados um dia com o bisturi da mais apurada consciência patriótica, como é a do seu colega Pedrinho. Nossa! Pai! O senhor falou muito mais do que eu perguntei! Mas valeu o aprendizado. Beijo meu Pai.