Em entrevista para o A Cidade, Paulo César Soares, de 36 anos, falou sobre o fato que marcou a sua vida para sempre
Paulo César Soares, de 36 anos, ao lado da esposa Ivone dos Santos Ramos, de 31 anos (Foto: Aline Ruiz/A Cidade)
Aline Ruiz
Nunca tive medo e não guardo rancor. Essa foi a frase dita mais de uma vez pelo zelador Paulo César Soares, de 36 anos, que foi esfaqueado em outubro deste ano por um morador de rua no Terminal Rodoviário de Votuporanga. Em entrevista para o A Cidade, o homem contou sobre os momentos de tensão que viveu durante o ataque e ainda falou sobre as dificuldades que têm enfrentado diariamente devido as sequelas que ficaram após os diversos golpes de faca que sofreu.
No dia 22 de outubro, por volta das 5h, Paulo se preparava para os últimos minutos de sua jornada de trabalho. Quando entrou no banheiro masculino para limpar o local, se deparou com um homem que ele sempre via pela rodoviária, porém, nunca havia trocado nem uma só palavra, e começou a trabalhar. “Quando eu entrei ele achou ruim, falou para eu sair e começou a me xingar. Eu disse que eu estava apenas fazendo o meu trabalho e continuei limpando tranquilamente. De repente, vi ele correndo em minha direção com uma faca, nesse momento não pensei em outra coisa a não ser lutar para sobreviver”, contou Paulo.
Zelador há mais de 10 anos no Terminal Rodoviário, Paulo contou que nunca havia passado por algo semelhante. Ele ainda disse que se não fosse ele, seria outra pessoa. “O cara estava em um mal momento naquele dia, tenho certeza que o problema não foi eu, ele iria fazer a mesma coisa com qualquer outra pessoa que entrasse lá, infelizmente foi eu. Para tentar sobreviver, abracei ele, porque assim era mais difícil ele desferir os golpes pelo meu corpo”, revelou.
A “luta”, segundo Paulo, durou cerca de 4 minutos, até o momento que ele conseguiu empurrar o morador de rua e fugir pela rampa da rodoviária. “Eu sai correndo e já comecei a gritar o taxista Nivaldo, ele me levou correndo para a Santa Casa mesmo sem entender nada do que estava acontecendo, se não fosse por ele eu estaria morto agora”, disse Paulo, ressaltando ainda que o rapaz fugiu logo depois do crime e não deixou nem a faca no local.
O acusado, identificado como F.L.O., de 41 anos, foi localizado alguns minutos depois do crime, próximo ao Auto Posto Trevão, onde foi abordado. De acordo com os policiais, as roupas dele estavam sujas de sangue e o mesmo confessou ter esfaqueado o zelador. Ele está preso em uma das cadeias públicas da região, onde permanece à disposição da Justiça.
Recomeço
O que Paulo mais espera agora é conseguir recomeçar a sua vida. Morador da Vila Carvalho há 36 anos, que fica a aproximadamente 14 km de Votuporanga, ele é casado com Ivone dos Santos Ramos, de 31 anos, com quem teve uma filha, Taynara, de 17 anos. Unidos, eles vivem de forma harmoniosa, com um apoiando o outro. “Elas me ajudam em tudo, agora a Ivone precisa ficar ao meu lado sempre, me acompanhar nas consultas, comprar os remédios, porque nem dirigir eu estou podendo mais”, comentou.
Após diversas cirurgias, a luta para melhorar a sua saúde continua, com visitas frequentes à Santa Casa de Votuporanga, além de também passar por consultas com médicos em São José do Rio Preto. “O que me deixa para baixo é que o cara parou a minha vida, não posso fazer mais nada agora, minha mão direita ficou com sequelas e não consigo mexer, eu fazia tudo com ela. Além de não poder voltar para o trabalho neste momento, também não posso fazer meus bicos”, lamentou.
Paulo vai começar a fazer fisioterapia na mão direita nos próximos meses, mas não está confiante, já que foi alertado que o movimento de sua mão talvez não volte. “É triste, tem dias que acordo muito revoltado, mas bola para frente, a vida é assim mesmo. Nunca tive medo de morrer, não tenho rancor ou raiva do homem também, nem nada. Só quero tentar tocar minha vida da melhor forma possível”, falou.
Com o coração limpo e paz de espírito, Paulo segue a sua vida na esperança de aos poucos voltar a fazer tudo o que sempre fez na vida, que foi trabalhar e, nas horas vagas, ter momentos de lazer com a família e amigos. “Deus vai cuidar da vida de quem fez isso comigo e vai cuidar de mim também, é nisso que acredito”, finalizou.