Aline Ruiz
Ainda muito abalado, Fernando dos Santos, de 36 anos, vítima de uma tentativa de homicídio que aconteceu no dia 16 de novembro, conta que foi presenteado por Deus com uma segunda vida. Ele perdeu o movimento da mão direita e o braço esquerdo após uma discussão com o seu vizinho, no bairro Pozzobon, em Votuporanga. Quase um mês após a tragédia, Fernando falou com o A Cidade sobre a sua situação e as dificuldades que está enfrentando para tentar voltar aos poucos para a sua rotina.
Morador de Votuporanga há apenas cinco meses, Fernando veio de Rondonópolis-MT em busca de novas oportunidades. Ele já percorreu diversas cidades do país, sempre trabalhando como vendedor ou, como ele mesmo afirmou, no que aparecesse para fazer. “Nunca tive problema em arrumar trabalho, gosto muito de conversar e de fazer amizades, trabalhei muito em festas de peão, com montagem de palco, fora isso vendo o que tiver para vender de casa em casa”, contou.
Antes do crime que parou a sua vida, Fernando estava trabalhando para a Casa de Apoio e Estar Mão Amiga. “Cheguei em Votuporanga e estava morando lá e vendendo verduras pelas ruas da cidade. Depois eu resolvi achar um canto só para mim, no dia que aconteceu a discussão, fazia apenas dois dias que eu tinha me mudado, não deu tempo nem de aproveitar”, disse.
Sobre a discussão, ele explicou que tudo começou por causa de um colchão que o vizinho, E.E.A., de 31 anos, teria emprestado para ele. “Ele me emprestou o colchão, mas veio me falar que tinha que pegar uma carta que estava no meio dele, eu disse que ele poderia levar o colchão embora, porque eu já tinha arrumado outro, porém, naquele dia, ele estava bastante alterado, tinha bebido, usado droga e estava dando problema para os outros vizinhos também”, revelou.
Antes do agressor pegar o facão, Fernando contou que ele estaria discutindo com uma senhora que também mora no mesmo lugar que eles. “Eu tentei acalmar a situação, até mesmo para ajudar a senhora, que não estava aguentando mais a presença dele naquele lugar, foi quando eu vi que ele chegou por trás e me deu um golpe com o facão, meu instinto foi colocar o braço na frente. Com apenas um golpe, ele decepou o meu braço, cortou a minha outra mão de fora a fora e ainda fez um corte na minha cabeça. Na hora, eu pensei que fosse morrer”, detalhou.
Após ser golpeado, a vítima apenas correu para tentar buscar ajuda, foi quando ele sentou na escada de uma loja, que fica em frente a avenida Emílio Arroyo Hernandes. “Como moramos nos fundos, eu só pensei em correr para frente, onde tinha movimento, para tentar pedir socorro, porém, fazer isso me fez ver o quanto existem pessoas cruéis nesse mundo”, lamentou.
Para o A Cidade, Fernando desabou e contou sobre o que ainda teve que passar antes de ser socorrido pela equipe do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). “Um rapaz chegou na minha frente e começou a me filmar, eu gritava para ele parar, gritava para ele chamar por socorro porque eu estava morrendo, mas ele só me filmava. Quando eu pensei que ele tinha parado, ele tinha apenas entregado o celular para a mulher dele, que continuou me filmando, depois eu não lembro de mais nada, porque eu desmaiei, perdi muito sangue, estava muito fraco”.
Fernando ficou internado duas semanas na Santa Casa de Votuporanga. Ele recebeu alta no dia 30 de novembro, há 10 dias. “Infelizmente ainda preciso ir direto para o hospital, sinto muita dor. Ainda vou precisar passar por outra cirurgia para a remoção de um tecido morto que ficou no braço que foi arrancado e também em uma parte da mão direita”, disse. Ainda segundo ele, os médicos vão tentar religar os nervos para que ele volte a movimentar a mão direta.
Vida nova
Apesar de todo o sofrimento, tanto físico como emocional, Fernando comemora a sua nova vida. “Deus me deu uma segunda chance, eu pensei que ia morrer, os médicos também pensaram, mas eu estou aqui. Infelizmente, estou tendo muitas dificuldades, porque não consigo trabalhar, tenho contas para pagar e, ainda por cima, sou sozinho”, contou.
Fernando também contou que tem recebido muito apoio de seus vizinhos e que isso tem ajudado muito. “Eu preciso de ajuda para tomar banho, para comer, para ir ao banheiro, não consigo fazer nada sem as duas mãos. Futuramente, talvez eu consiga recuperar o movimento da mão direita, mas o braço esquerdo eu não tenho mais. Só quero me recuperar logo para conseguir trabalhar e pagar as minhas contas”, afirmou.
Para aquelas pessoas que puderem, Fernando pede ajuda. “Muitos tem contribuído com comida e remédios, mas ainda preciso pagar aluguel, água e luz, sem trabalhar é quase impossível ganhar dinheiro, por isso que está sendo tão difícil. Qualquer ajuda para mim é muito bem-vinda, como não tinha um trabalho com carteira assinada, não tenho ajuda, por isso que complica ainda mais”, ressaltou.
Aos interessados em ajudar, o telefone para contato é o 99139-9323 (WhatsApp), falar com Ana Paula, que é a vizinha de Fernando.
O autor do crime
O autor do crime, E.E.A., de 31 anos, mais conhecido como "Pernambuco", foi preso pela Força Tática de Votuporanga. Ele foi conduzido para o 2º Distrito Policial e encaminhado para a cadeia pública de Guarani D’Oeste.