Equipe de 150 militares é comandada por duas mulheres. Encontrar mais um corpo renova esperanças, diz subcomandante.
Bombeiros encontram mais um corpo em Brumadinho — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
As mulheres são a minoria entre os bombeiros militares que estão na operação de resgate em Brumadinho, mas se destacaram, mais uma vez, nesta última sexta-feira (4), quando foi localizado mais um corpo em meio à lama da barragem da Vale. Quem comandava e subcomandava a equipe de cerca de 150 bombeiros são duas mulheres: tenente coronel Daniela Lopes e coronel Kênia Prates.
A tragédia da Vale em Brumadinho completou 253 dias e a operação de resgate já é a maior da história do Brasil. Até agora, já foram identificadas 251 vítimas. A última foi localizada pelo Corpo de Bombeiros por volta das 10h. Ela estava na área do remanso 4, a 1,5 m de profundidade e a cerca de 200 metros onde foi localizado Luciano Almeida Rocha, no domingo (29).
Equipes da polícia civil passaram a tarde debruçadas no trabalho de identificação, que foi feita por meio de arcada dentária. Por volta das 19h, a corporação divulgou que se tratava do motorista Carlos Henrique de Farias, de 45 anos.
A notícia de que mais um corpo encontrado sob a lama da barragem da Vale, em Brumadinho, havia sido identificado pela Polícia Civil, chegou como um alento a uma das comandantes da operação, a tenente coronel Daniela. "A gente se sente realizado, na nossa missão de bombeiro, de poder trazer consolo alivio para a família que está na expectativa há quase nove meses para encerrar um ciclo de luto, para sepultar ente querido".
Foi ela quem deu a notícia oficialmente aos militares durante a reunião planejamento, realizada por volta das 20h, após uma jornada de buscas que começou por volta das 6 da manhã. "Mesmo cansados, todos acabam tendo a esperança renovada, com a certeza de que as famílias das vítimas confiam no nosso trabalho", disse.
Tenente coronel Daniela é militar há 26 anos. Entrou como soldado, na primeira turma de mulheres a ingressar na corporação. E, hoje, assumiu o subcomando da maior operação de resgate do país. “A maior parte [dos bombeiros] realmente é de homens. Entram em média 150 bombeiros por semana; destes, só 6 são mulheres. Mas somos uma tropa que trabalha de forma muito técnica. Há um respeito muito grande ao serviço de todas as mulheres, seja no comando ou na execução. Flui tudo muito bem”, garantiu.
A militar já foi comandante do Batalhão de Operações Aéreas dos Bombeiros, onde atua outra bombeira de destaque, a Major Karla Lessa, responsável pelo primeiro resgate aéreo após a tragédia. Atualmente, Daniela é responsável pela Diretoria de logística e finanças em Belo Horizonte, e está no terceiro ciclo de trabalhos em Brumadinho.
Cada ciclo tem sete dias. Os militares fazem trocas de tropas todas as quinta-feiras, como uma estratégia para garantir a continuidade ininterrupta da operação até que sejam encontrados todos os corpos ou que todas as possibilidades já estejam esgotadas.De acordo com a tenente coronel Daniela, as frentes de trabalho estão espalhadas por toda a área onde há rejeito, com atenção especial aos remansos. “Os remansos são áreas mais propícias a acúmulo de corpos e de materiais”, explicou.
O trabalho de inteligência da corporação segue como etapa primordial para o planejamento dos locais de buscas, que se alternam conforme indícios de vítimas ou não. E é especialmente importante para otimizar o trabalho dos bombeiros durante o período chuvoso.
“A gente ainda não sabe como vai ser, mas já estamos trabalhando visando o período chuvoso. Estamos desenvolvendo estratégias, que serão amadurecidas, trabalhadas e validadas dentro da corporação, de forma que consigamos prosseguir com as buscas”, afirmou.