Pelo céu ou terra, rota caipira do tráfico de drogas continua a todo vapor na região; nas rodovias, quantidade de maconha apreendida na quarentena é quase três vezes maior do que em todo 2019
No mês passado, 359 quilos de maconha foram apreendidos em Tanabi. (Foto: Divulgação/ Polícia Rodoviária Estadual)
Seja pelo céu ou por terra, o tráfico de drogas teve uma ascensão meteórica no Noroeste Paulista durante o período de quarentena. Levantamento obtido pelo Diário, com base em dados de apreensões da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) na região evidenciam isso. Entre o dia 21 de março e 30 de abril, foram apreendidas 3,7 toneladas de maconha, equivalente às apressões de praticamente todo o ano passado - 3,8 toneladas. Somadas as apreensões de 6,8 toneladas em Guapiaçu, na noite de sexta-feira, 12, e mais 359 quilos em Tanabi - não contabilizadas no levantamento da PRE -, a droga apreendida na região, neste ano, chega a 10,8 toneladas, quase três vezes mais do que foi apreendido nos 12 meses de 2019.
Esse grande palco do crime se explica pela geografia da região. O Noroeste Paulista está no meio do caminho entre os países de origem da maconha e cocaína - como Bolívia e Peru - e os grandes mercados que consomem o pó, como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, parte da droga exportada para a Europa e África passa pela região para chegar ao Porto de Santos, onde a droga é escondida em contêiner até chegar do outro lado do Atlântico. Em todo o Brasil, segundo dados da Polícia Federal, a quantidade de maconha apreendida apenas em abril, durante à quarentena, cerca 40,5 toneladas, é maior do que o somado de janeiro a março - 23 toneladas.
Na sexta-feira, 12, um caminhão tanque transportando 6,8 toneladas de maconha foi apreendido na rodovia Assis Chateaubriand (SP-425), em Guapiaçu. A droga estava escondida em um fundo falso descoberto pelos policiais, que suspeitaram do nervosismo do motorista durante uma abordagem. Foi uma das dez maiores apreensões da história do policiamento rodoviário do Estado.
No último dia 5, um bimotor foi interceptado em Fernandópolis. Dentro da aeronave, o piloto de 44 anos, sabia que "tinha perdido" para a polícia e que a carga de pasta base de cocaína não chegaria ao destino final, o que poderia render mais de R$ 15 milhões aos seus mandantes.
Quando a aeronave pousou, a descoberta: 490 quilos de pasta base de cocaína. O piloto e o comparsa de 38 anos transportavam documentos eletrônicos e aproximadamente R$ 9 mil em dinheiro. A droga tinha sido carregada na região Norte e o destino seria uma pista clandestina a 10 minutos de distância de Fernandópolis. De lá, o entorpecente seria "batizado", como os traficantes chamam a mistura de outros produtos químicos para aumentar a quantidade e lucro, sendo depois distribuída no mercado paralelo.
Um mês antes, foi a vez de um perseguição em terra terminar em apreensão. Era manhã de quarta-feira, 13 de maio, quando policiais avistaram um carro em alta velocidade pela rodovia Euclides da Cunha (SP-320). Percebendo que o motorista trocou o freio pelo acelerador e não respeitou a ordem de parada, a equipe deu início a uma perseguição que só terminou em uma estrada de terra do distrito de Ecatu, em Tanabi. No carro, 359 quilos de maconha.
Na rota caipira do tráfico de drogas, passam desde "mulas" - como são conhecidas as pessoas usadas por traficantes para transportar a droga em forma de ingestão ou escondida no corpo humano, até caminhões de carga com fundos falsos. Foi o que aconteceu em abril, na rodovia Washington Luis, em Rio Preto, quando um caminhão com 1,5 tonelada de maconha foi apreendido.
Segundo relatório da PF, o Brasil se tornou nos últimos anos o segundo maior consumidor de cocaína do mundo. Assim, mesmo com fronteiras fechadas e até voos internacionais mais raros, que impede a viagem de "mulas", os países produtores vem não só mantendo, mas aumentando sua produção, mesmo com a dificuldade de acesso aos insumos. A PF acredita que os narcotraficantes querem manter o estoque para remessa pós-pandemia.
Nos portos, relatório da PF mostra que as apreensões tiveram aumento de 10,45% durante a quarentena, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre os motivos do crescimento de apreensões, principalmente nas rodovias da região, estaria a pouca circulação de carros, o que facilita abordagem de suspeitos.
*Diário da Região