Autoridades alertam para o risco de colapso do sistema de saúde e regresso para a Fase I do Plano São Paulo que fecharia o comércio novamente
Gráfico do Jornal Cidadão de Fernandópolis mostra a evolução dos casos
Uma reportagem especial do Jornal Cidadão, de Fernandópolis, esmiuçou os números da Covid-19 na cidade vizinha e revelou que a crescente nos casos estaria diretamente ligada a confraternizações e churrascos de famílias. O município, que há duas semanas estava em uma situação confortável (50 casos e nenhuma morte), viu a quantidade de casos disparar fechando na sexta-feira (12) com 197 ocorrências e contabilizou três mortes. Veja a reportagem:
A sexta-feira, 12, marcou o 79ª de Covid-19 em Fernandópolis. Do primeiro caso registrado em 25 de março até os 197 totalizados nesta sexta, diversas medidas e ações foram tomadas pelas autoridades municipais. Se durante os dois primeiros meses, a cidade estava numa situação confortável na batalha contra o coronavírus, a intolerância e incredulidade virou o jogo a favor do vírus.
Por menos admissível que seja por parte dos responsáveis diretos, mecanismos de fiscalização e de mapeamento de diagnósticos adotados pela Secretaria de Saúde e prefeitura mostram que o aumento exponencial de novos casos positivos de Covid-19 foi provocado, sobretudo, durante festas de confraternizações e churrascos em casa entre parentes, amigos ou em chácaras.
“Conseguimos sair da fase I para a fase II, o comércio de maneira exemplar está abrindo no centro da cidade, a prefeitura está fazendo as orientações e fiscalizações e está indo bem. Porém, o que vem acontecendo nos últimos dias para elevação do número de casos, é que as festas entre familiares, amigos e em casa ou nas chácaras está fazendo com que vírus se alastre em nossa cidade”, disse André Pessuto durante live transmitida no Facebook nesta quinta-feira, 11.
O alerta sobre a explosão de novos casos positivos de coronavírus foi feito pelo médico infectologista Márcio Gaggini, durante entrevista à Rádio Difusora no dia 3 de maio. Ele explicava que a partir da flexibilização do comércio e o fim da quarentena, era esperado um aumento de casos de Covid-19, o que de fato ocorreu, não necessariamente pela flexibilização, mas em virtude do descumprimento das medidas de isolamento social por parte da população.
Gaggini, que é o coordenador do Comitê de Contingenciamento da Covid-19 de Fernandópolis, voltou a fazer outro alerta sobre a possibilidade de um aumento exponencial do número de pacientes infectados, caso as recomendações não sejam devidamente seguidas e as medidas restritivas e de isolamento social não sejam respeitadas.
“O que a gente está observando nesses novos diagnósticos é que muitos ocorreram durante confraternizações, por festas, por churrasco, por almoços em família. Às vezes, a pessoa só está com uma coriza ou sintomas bem leves, mas vai a confraternizações e acaba transmitindo para outros”, disse o médico.
Para controlar a situação, a prefeitura está aumentando a vigilância na cidade, o que está possibilitando o rastreamento de novos casos a partir do mapeamento e monitoramento dos infectados.
“Queremos saber aonde essa pessoa foi nos últimos dias. Infelizmente, a maioria dessas histórias nos levou a essas confraternizações. A gente buscou todo mundo que participou de um churrasco ou uma festa e foi testando quem tinha sintoma. Por isso teve esse aumento enorme nos últimos dias”, explicou.
COLAPSO
Conhecedor do risco de contaminação coletiva que elas representam, Márcio Gaggini pediu para que a população adie esse tipo de comemoração. “Não façam essas confraternizações. Estamos num período de alta do vírus. O vírus está transmitindo muito de pessoa para pessoa em nossa cidade. Então é o momento de evitar essas confraternizações, essas festas, esses churrascos. A gente vai ter hora para isso no futuro. Mas, a hora não é agora. Esse é o pior momento para estarmos realizando isso”.
Para o prefeito André Pessuto, somente um esforço coletivo de todos os fernandopolenses será capaz de evitar o agravamento da crise que Fernandópolis está entrando.
“Não tem outra forma de sair dessa crise que Fernandópolis está entrando se todos os fernandopolenses não estiverem de mãos dadas”, destacou André Pessuto.
Segundo Pessuto, essa situação coloca a cidade em risco de retroceder de fase, da laranja para a vermelha (onde só os serviços essenciais abrem), quando a expectativa era avançar para a fase amarela. Nesta semana, o governador João Dória anunciou que a região seria mantida na laranja, mas com risco de voltar de fase como aconteceu com outras regiões, que da fase amarela retrocederam para a vermelha.
O Secretário Municipal de Saúde, Ivan Veronesi, ressaltou que o município está estruturado para enfrentar a crise do provocada coronavírus. Mas alertou que se não conter a propagação do vírus, o sistema de saúde poderá entrar em colapso.
“Nós temos uma estrutura muito boa, temos uma equipe e profissionais que está pronta para atender a população. Mas depende dela seguir as orientações das autoridades. Nós vimos o que aconteceu nas cidades vizinhas. Deu praticamente 100% de ocupação de todos os leitos de UTIs e enfermaria deles”, alertou Veronesi.
O médico infectologista Márcio Gaggini, reafirmou essa preocupação. “Se a propagação continuar dessa forma como está, a gente vai ter muitos pacientes graves e isso pode levar ao colapso da Santa Casa. Isso, infelizmente, pode acontecer”, concluiu Gaggini.
ESCALADA
A semana começou com 113 casos positivos de Covid-19, contando com os cinco pacientes diagnosticados no domingo. Na segunda-feira, 8 esse número saltou para 124, com mais 11 casos diagnosticados. A curva seguiu em alta com mais 12 casos, totalizando 136 na terça-feira, 9.
O recorde regional ocorreu na quarta-feira, 10, com a notificação de 30 pacientes que testaram positivo, elevando o total para 166. Na quinta-feira, mais 14 casos foram confirmados e o município chegou a marca de 180 pacientes infectados pelo vírus. A sexta-feira, fecha esse balanço semanal com mais 17 casos, totalizando 197. Nos primeiros 12 dias de junho foram registrados 133 casos de Covid-19.
Pior do que a escalada do número de resultados positivos, são o número de óbitos. No domingo, 8, foi registrado a primeira morte por coronavírus, 75 dias depois de registrado o primeiro paciente infectado pelo coronavírus em Fernandópolis, fato ocorrido em 25 de março.
Quatro dias depois, na quinta-feira, mais dois óbitos entraram para a triste estatística. As vítimas, também mulheres, de 74 e 75 anos respectivamente, ambas com comorbidades. Uma delas estava internada em São José do Rio Preto, onde contraiu o vírus, mas o óbito é contado para Fernandópolis.
* Jornal Cidadão