Na década de 30, Votuporanga era o que os antigos chamavam de sertão - não havia nada além da mata fechada e um território vasto a ser explorado. Parte do progresso que vemos hoje veio com as comitivas de boiadeiros que passavam por aqui e traziam consigo além das boiadas, as culturas de outras regiões. Com as comitivas também vieram alguns moradores que constituíram famílias e assim formavam os primeiros povoados na região.
No último domingo, cerca de 400 cavaleiros da região se encontraram para reviver
esta tradição. Famílias aproveitaram o momento para ensinar aos filhos os costumes e tradições do homem do campo.
É o caso de Fabiana Canossa e Júlio César, que levaram o filho José Ignácio. "Aqui na cidade tudo é ensinado pela televisão, as crianças precisam desta vivência, de respirar ar puro, coisa que só aprendemos no campo. Temos a preocupação de ensinar ao nosso filho as noções de respeito pela história, respeito pelas tradições do campo", diz Fabiana.
Para o presidente do Sindicato Rural, José Emilio Menoia, a 6ª Cavalgada "Viver Votuporanga Rural" conquista cada vez mais adeptos, que veem no encontro uma maneira de rever amigos, reviver momentos daquela época e mostrar para a população um pouco dos costumes no campo.
As comitivas fizeram um desfile que passou pela Zona Noite da cidade e ruas do centro. Depois foi servido um almoço típico com direito a feijão tropeiro, costela no tacho e outros.
A profissão boiadeiro
Convidado pela organização da cavalgada, Francisco Barufi, 84 anos, começou aos 15 o ofício de peão de boiadeiro. Em 1940 ela já conhecia boa parte do território da região e estados vizinhos. Em cima do lombo de um cavalo ele fez amigos e ajudou a escrever as primeiras linhas da história da região. "Quando vejo um encontro como este, me emociono, lembro de passagens daquela época, de amigos queridos que já morreram. Passo pelas ruas de asfalto de hoje e lembro de quando tudo isso era mata fechada", conta.
Chico, como é conhecido, se orgulha do respeito e carinho que as pessoas têm por ele. "Encontro filhos de amigos, esposas, que vêm me cumprimentar e relembram coisas da época. São tantas histórias que se começo a pensar me emociono", conta. Apesar da idade e com a audição um pouco debilitada, ele não deixa de participar de outros encontros. Há três anos Chico segue a cavalgada "Fé e Tradição" que dura 15 dias e percorre o trajeto de Novo Horizonte até Aparecida.
Para ele, profissões daquela época que já estavam quase extintas voltam a ganhar espaço com o aumento das cavalgadas organizadas. "Tenho amigos donos de selarias que estão resgatando a profissão graças a estas cavalgadas", conta.