Escritor Tony Rocha (Foto: Arquivo Pessoal)
Denisinha
Tony
Rocha
O fato aconteceu em uma farmácia. Uma
farmácia pela qual passei no dia do acontecido. A boa notícia é que não estive
na farmácia para comprar remédio, mas para cumprimentar uns amigos; a má notícia
é que quando ocorreu o fato, eu já não estava na farmácia, tinha ido embora.
Vou narrar o ocorrido segundo me disse o Abelardo, ele presenciou o fato que,
posteriormente, foi-me confirmado pelos amigos que trabalham no
estabelecimento. Aconteceu que, naquela quinta-feira à tarde, a Denisinha
entrou na farmácia carregando sacolas de compras de algumas butiques e...
“E então ela, a Denisinha”, disse-me
o Abelardo, “aproximou-se da balança, colocou as sacolas de compra sobre uma
pilha de fraldas, tirou as sandálias com um movimento gracioso, depois, calma e
delicadamente, tirou a blusa e...”
“Prossiga”, eu disse, “está ficando
interessante.”
“Uma senhora que estava por perto
quis saber a razão por que a Denisinha estava fazendo aquilo, a Denisinha disse
que experimentava uma nova dieta e precisava saber seu peso exato, a senhora
disse a ela que não precisava ficar nua, podia subir na balança com roupa,
mesmo, e depois subtrair um quilinho...”
“Prossiga, prossiga”, exigi.
“A Denisinha parou por um momento”,
continuou o Abelardo, “eu precisava agir rápido, disse que não se deve confiar
em peso de roupas, que quando se quer exatidão, só mesmo subindo na balança sem
uma única peça do vestuário, deu certo, ela concordou e recomeçou a despir-se;
rebolou devagar para tirar a calça jeans que
estava colada às curvas do corpo monumental, tirou o sutiã... depois foi a vez
da minúscula calcinha preta, depositou as peças íntimas na pilha de fraldas e
subiu na balança...”
“Continue, continue com o relato.”
“Espere um pouco, você conhece a
Denisinha?”
“Mas que pergunta é essa?! É claro
que a conheço, há cerca de três anos, estávamos, você e eu, tomando uns chopes
aqui nesse mesmo bar quando ela passou pela calçada desfilando sensualidade,
lembra? Foi a primeira vez que a vimos.”
“Oh, é verdade, a cena da Denisinha
na farmácia me deixou atordoado, ainda não me recuperei totalmente.”
“Se vestida a Denisinha já é uma
tentação... Nua, aquela estonteante morena deixaria qualquer um atordoado, mas,
prossiga, você dizia que a Delicinha, digo, a Denisinha subiu na balança, e
depois?”
“Depois nada, ela conferiu o peso
assinalado, deu um sorriso de aprovação, vestiu calmamente a roupa, peça por
peça, apanhou as sacolas de compra e deixou a farmácia.”
Eu estava tão empolgado com a
história que, só no ponto do relato em que a Denisinha deixou a farmácia é que
fui perceber que o Abelardo estava com curativos e hematomas. “E os hematomas e
curativos? O que aconteceu?”, perguntei.
“Quando a Denisinha ficou nua, saquei
uma flanelinha do bolso, limpei os óculos e comecei a olhar, embevecido, para
aquelas curvas impecáveis, minha pressão foi ao topo do mundo com aquela visão
de paraíso, foi um Deus nos acuda.”
“Entendo, mas isso não explica os
curativos e hematomas.”
“É que eu estava tão fascinado pela
Denisinha nua que, na hora, nem me lembrei de um detalhe importante: a senhora
que sugeriu que a Denisinha não tirasse a roupa é minha mulher.”
Pedimos mais dois chopes.
Tenho ido à farmácia todas as tardes;
sem minha mulher, é claro.