O que explica o fato de um país ser a sexta economia mundial e ocupar a 84ª posição no IDH, entre 187 países. Talvez outro dado ajude a explicar esse contraste: entre 65 países, o Brasil ocupa o lugar 53 no Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Alunos.
O cenário internacional pode ser muito favorável, podemos ter um sistema financeiro bem estruturado, trilhões de reservas em dólares, sem falar da rica biodiversidade existente em nosso país, de fazer inveja no mundo. Mas, tudo isso, que poderia constituir-se em vantagem competitiva e comparativa ou em oportunidade para iniciar uma profunda revolução no Índice de Desenvolvimento Humano, esbarra com uma absoluta falta de investimento da educação.
Nenhuma riqueza natural e nenhuma reserva econômica conseguem desenvolver a mente de um povo ou educar seu espírito. Em meio a toda essa riqueza, falta-nos uma politica cultural, sobra pobreza material para milhões de excluídos e sobra pobreza de espirito republicano.
Os contrastes que ainda persistem há muito não precisariam mais existir. O que perpetua esses contrastes são, em primeiro lugar, a ínfima qualidade dos primeiros 14 anos de estudos dos alunos das escolas sob a responsabilidade de nossos governos. Em seguida, o nível de exigências acadêmicas de nossas universidades, particulares e públicas, capazes de serem aplicadas aos nossos alunos está cada vez menor.
Isso se verifica na palavra de Ruy Martins, presidente do Conselho de Administração do CIEE e da Academia Paulista de Letras Jurídicas:
“Mensalmente, milhares de universitários são barrados nos processos para as vagas de estágio e aprendizagem por apresentarem deficiências acumuladas no ensino básico e não apresentarem as habilidades mínimas para começar a atuar em um ambiente de trabalho”. (Folha de S. Paulo, 13/09/2012, Pág. A3).
Essa descrição confirma a urgência de um investimento de quantidade e de qualidade na educação. Não basta somente aumentar salários, embora seja uma questão muito importante. O aumento salarial por si só não é garantia de melhoria na qualidade de ensino.
A qualidade das exigências e das intervenções deve integrar e articular essa dimensão a mecanismos que atuem na direção da transformação do espaço escolar em verdadeiras oficinas de construção de conhecimentos significativos, promotores de sustentabilidade socioambiental.
Entre as grandes demandas para chegarmos a uma verdadeira revolução a partir da educação, é fundamental manter os alunos mais tempo na escola, sob a orientação de professores acompanhados sistematicamente em sua formação continuada, para o cultivo de habilidades e de competências de complexidade crescente.
Igualmente, é fundamental possibilitar aos professores a aprendizagem de uma construção coletiva de um currículo integrado, no qual cada saber deverá contribuir para a formação de um espírito verdadeiramente republicano, com sensibilidade construída para o princípio da sustentabilidade.
A aprendizagem da dimensão coletiva precisa ser fomentada com os professores, antes de corriqueira construção de seus projetos individuais com os alunos, em departamentos estanques e desconexos. Para evitar essa fragmentação faz-se necessário instituir, junto aos professores, formalmente o tempo e o espaço de estudo e de preparação interdisciplinar das unidades de ensino.
Com isso, estamos dizendo que se o nosso aluno não tem o hábito de pensar e de problematizar, é porque nossa metodologia não o proporcionou no passado, e hoje queremos exigir dele uma coisa para a qual não foi educado e potencializado por nós mesmos.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador