*Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do CIEE e da Academia Paulista de Letras Jurídicas (APLJ).
“Do que a educação necessita
para atingir o patamar de
qualidade desejável, é de
ética no trato da coisa pública,
competência na gestão e
olhar vigilante da sociedade”
Numa perniciosa inversão de valores, nos dias atuais o professor – antes uma figura respeitada pela sociedade – passou até a ser agredido por alunos, questionado por pais e não amparado na medida necessária pelos governos. Um dos resultados é o desprezo dos jovens pelo magistério. Uma prova? Entre 2012 e 2013, houve uma queda de 22 mil concluintes nos cursos de licenciatura, segundo o Censo do Ensino Superior. Como consequência, centenas de escolas do ensino básico continuarão sem professores para disciplinas estratégicas, como matemática, física, química e português, entre outras.
Dois recentes editoriais do Estadão colocam o dedo na ferida, ao afirmar que a má qualidade do ensino não se deve à propalada escassez de recursos. Segundo dados do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), de 2007 a 2013 o repasse de verbas saltou de R$ 67 bilhões para R$ 116 bilhões, para pagamento dos professores, compra de equipamentos e manutenção das atividades básicas, como transporte e merenda. Além da má gestão, tais recursos também são alvo de corrupção, pois a Controladoria Geral da União aponta desvios de verbas em 73% dos 180 municípios fiscalizados.
Como o número de alunos não cresce na mesma proporção do repasse de verbas, é razoável inferir que aumentou o gasto por aluno. Só que, como mostram os péssimos indicadores nacionais e internacionais, a qualidade vem subindo, na média geral, a passos de tartaruga. Do que a educação necessita, de verdade, para atingir o patamar de qualidade desejável, é de ética no trato da coisa pública, de competência na gestão e de olhar vigilante da sociedade (até agora quase ausente).