As declarações dos empresários Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro sobre suas relações com Lula complicaram de vez a situação do ex-presidente. Mas a questão que envolve a possibilidade de sua prisão pode não ser resolvida rapidamente. Afinal, prender um ex-presidente da República provoca amplas repercussões nacionais e internacionais.
No entanto, a situação jurídica de Lula está cada vez pior e dificilmente ele conseguirá escapar de uma pesada condenação por parte do juiz Sérgio Moro, à frente das investigações na Operação Lava-Jato. Lula provavelmente poderá recorrer em liberdade e aí sua sorte estará nas mãos do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A questão crucial é saber se o TRF4, localizado no Rio Grande do Sul, cujo meio jurídico tem conhecidas tendências esquerdistas, condenará Lula com celeridade a ponto de torná-lo inelegível. Como se sabe, uma condenação em segunda instância de órgão colegiado fará dele um ficha-suja.
Lula, por sua vez, age de forma clara: transforma-se em vítima e candidato à Presidência para jogar em Moro a pecha de perseguidor de político popular. O resultado nas pesquisas de opinião endossa a estratégia de Lula: é o único que estaria assegurado no segundo turno se a próxima eleição presidencial fosse realizada hoje.
Miais recentemente, o ex-presidente e o juiz passaram a protgonizar uma polêmica sobre sobre as condições em que se dará o encontro entre ambos – dia 3 de maio ou mais tarde, com 87 testemunhas ou menos, embalado por manifestações populares alusivas ao dia do trabalhador ou um teste de pré-lançamento de campanha.
O embate serve de maneira conveniente à personalidade marqueteira de Lula, que todos os dias tem assunto para alimentar a mídia. Com a vantagem de se tratar de uma agenda positiva, que evita as palavras corrupção e propina, e põe no centro do debate a questão da democracia.
Recentemente, o sociólogo André Singer, um dos formadores das teses do lulopetismo, afirmou em artigo que a estabiidade da democracia só estará garantida se Lula concorrer em 2018: “No lusco-fusco em que nos encontramos, o destino jurídico do líder petista será chave”, escreveu.
Caso Lula seja candidato, raciocina Singer, “a recomposição do tecido democrático esgarçado pelo golpe parlamentar ganha densidade”. Na hipótese contrária, a instabilidade tende a se prolongar. Logicamente, o raciocínio de Singer é mais do que um exagero.
Como a próxima eleição não será realizada hoje e nem se sabe se Lula estará ou não elegível em 2018, tudo o que vemos é um samba-enredo destinado a transformá-lo em herói do povo mesmo com evidências chocantes de privilégios indevidos. É a construção de uma narrativa que funciona, em parte, pelo fato de os demais partidos também estarem sendo atingidos pelo tsunami da Lava-Jato.
Tal narrativa não funcionará mais adiante porque a mochila de fracassos e equívocos de Lula está transbordando e isso custará caro em uma possível tentativa de se reeleger. Em campanha, ele já não contará com a generosa ajuda das empreiteiras. Além disso, o PT está desidratado e envergonhado, por conta da sucessão de escândalos em torno de seu nome. Sem contar o fato de que o mundo sindical não estará unido a seu lado.
Para piorar, caso Lula consiga chegar a 2018 elegível, sofrerá um bombardeio midiático intenso, já que passou a personalizar tudo de ruim que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Poderá até chegar ao segundo turno, mas ganhar é outra história.