De longe, é tudo sempre inacreditável. Uma região inteira que se auto dispensou de fazer sentido. Demitiu o senso comum. Entender já não é possível. E o verdadeiro, não é mais verossímil.
De perto, o inacreditável é tangível. Concreto. Destrói vidas. Ruim para todos. Parte da realidade, enfim. Mas também não precisava ser aceitável. Deveria, aqui e ali, existir pelo menos algum espaço para indignação, ou mesmo reconhecimento dos problemas. Ou, sendo realmente otimista, para aprender com erros passados.
Ninguém gosta de má notícia. É natural. Mas vestir óculos cor-de-rosa o tempo todo não ajuda. Nunca. Ser enganado é um fato da vida. Autoengano é culpa exclusivamente nossa.
A esta altura, imagino, todos já deveriam ter entendido que os problemas são complexos. E que, portanto, não serão resolvidos nem por salvadores, nem rapidamente, nem facilmente, nem sem sacrifício.
Agora a gente deu para acreditar que um Estado da união que decretou falência a menos de um ano vai se recuperar simplesmente através da injeção de recursos a serem usados da mesma maneira. Como se repetir tudo do mesmo jeito pudesse gerar resultados diferentes.
No mesmo festival de autoengano, lá vem anuncio de plano de segurança que vai resolver tudo. E que começa pela intervenção das forças armadas. Da até preguiça de falar disso. Notícia velha. E, pior, repetida, reciclada e vendida como novidade.
Na maior parte dos lugares, intervenção federal é atestado de incompetência do sistema político e administrativo. Fracasso de todos, eleitores e eleitos, enfim. Algo a ser evitado. Somente aceito de maneira relutante. Jamais com alegria. Com exceção, claro, do pais onde o inacreditável é sinônimo de aceitável.
Depois de dezenas de intervenções das forças armadas nos últimos anos, exercito patrulhando a rua não é sequer noticia nova. Faz tempo que deixou de ser remédio. É sintoma. De doença grave.
Mas a gente vai se acostumando. E empurra com a barriga. Envia dinheiro daqui. Declara insolvência dali. Atrasa pagamento. Deteriora serviço. E vai levando. Acostumados e completamente adaptados ao inaceitável.
Seguimos construindo com surpreendente zelo e vigor, a nossa versão particular de inferno. Nem o diabo acredita.