O prêmio “Cidadão São Paulo”, entregue por Gilberto Dimenstein no MASP, exatamente no dia em que a metrópole celebrava 464 anos, foi uma injeção de esperança no Brasil. Primeiro, porque os premiados merecem reconhecimento da população. Não se cuida de mais um episódio inserto na conhecida “tática das homenagens”, pródiga praxe tupiniquim. Todos eles são paradigmas em sua área de atuação. Santa Marcelina Cultura, o testemunho de que beleza e arte complementam a formação de todas as pessoas e constituem alavanca de impulso na ascensão da personalidade, rumo à plenitude possível. Representou a entidade a Irmã Rosane Ghedin, que também foi brindada, como todo o auditório, com espetacular apresentação do pianista Marcelo Bratke.
José Pastore, o mais lúcido intérprete da situação laboral brasileira, é também músico e apaixonado pela disseminação da música. Junto com Antonio Ermírio de Moraes, fundou o Instituto Baccarelli, que exporta talentos brasileiros para todo o planeta. Recebeu seu prêmio sob os trinados de Jean William, o garoto cada vez melhor, descoberta de João Carlos Martins.
A Agência Mural, outra premiada, é exitoso experimento de mídia focada na realidade e nas necessidades de regiões negligenciadas pela grande máquina da imprensa. O jornalista Leonardo Sakamoto fez bela referência sobre o trabalho de Paulo Talarico e sua equipe, que se manifestou com a voz de Priscila.
Nando Bolognesi foi um show à parte. Este sim, um case exemplar de superação. Acometido há 30 anos por esclerose múltipla, encontrou fórmula eficiente de continuar a espalhar alegria e sua peça faz todo o sucesso e merece que toda São Paulo a prestigie.
Fui privilegiado ao entregar o prêmio a Rachel Oliveira Braun, professora do Colégio Visconde de Porto Seguro, onde, além de coordenar a área de Ciências, coordena pedagogicamente a Escola da Comunidade. Testemunho eloquente de que a sociedade pode e deve participar do processo comum a todos de propiciar a todo jovem e criança uma educação de qualidade.
O show foi leve, edificante e gratificante. Além da música da Big Band EMESP e do Instituto Baccarelli, fomos todos premiados com Toninho Ferragut, o mago do acordeon. Gilberto Dimenstein, o idealizador, idealista e entusiasta, funcionou como simpaticíssimo Mestre de Cerimônias e deixou para o final uma surpresa. Comentou que todas as músicas paulistas continham uma gota de tristeza, assim como há uma gota de sangue em cada poema. É maloca destruída, trem que se perde, Iracema atropelada, cena de sangue num bar da Avenida São João.
Então lançou um repto ao sambista Toninho Gerais, mineiro carioca e este, um amante de São Paulo, junto com Chico Alves, dialogou com Caetano Veloso, autor de Sampa e com Paulo Vanzolini, que nos legou a maravilhosa Ronda. Produziu o “Sampa-Canção”, pela primeira vez apresentada no MASP, naquela noite de 25.1.2018, na voz de Irene Atienza, cantora espanhola radicada nesta megalópole.