Dois moradores da região noroeste paulista sobreviveram a tragédia e contam como estão atualmente. Onze pessoas seguem desaparecidas.
Morador de Ilha Solteira (SP) é um dos sobreviventes da tragédia em Brumadinho (MG) (Foto: Reprodução/TV TEM)
O desmoronamento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) completa um ano neste sábado (25) e, se na memória do brasileiro a tragédia é recente, para os funcionários que conseguiram fugir do mar de lama é ainda mais viva e triste.
Para o sondador Lieuzo Luiz dos Santos, nem mesmo o fato de não querer ver mais notícias sobre o caso afasta as lembranças de uma das maiores tragédias do país. No início da tarde do dia 25 de janeiro, Lieuzo estava trabalhando em cima da barragem da Mina do Córrego do Feijão.
“Ainda é tudo muito triste, uma tragédia muito grande”, afirma o sondador.
O morador de Ilha Solteira (SP) trabalhava com colegas na instalação de instrumentos de energia elétrica quando a estrutura desabou. Lieuzo é uma das pessoas que aparecem nas imagens das câmeras de segurança da Vale que captaram o exato momento do rompimento.
Além das lembranças, o desmoronamento da barragem também deixou sequelas físicas. Lieuzo era sondador e não trabalha mais depois que passou por uma cirurgia no quadril por causa dos ferimentos.
“Tive muitos problemas. As pernas doem, os joelhos doem. Eu caminho uns 500 metros e meus joelhos já doem. Em fevereiro vou voltar ao médico para ser se terei de operar os joelhos também. Fiquei seis meses sem andar, e como meu serviço era pesado, não consigo mais voltar”, afirma.
Lieuzo prestava serviço terceirizado para a Vale e, segundo ele, a empresa dele continua prestando auxílio, mas nunca recebeu uma ajuda da mineradora. “INSS não recebo mais nada também, suspendeu com seis meses”, diz.
Mas para ele o pior ainda são as lembranças. Com isso, ele recebe a visita de uma psicóloga toda a semana. “Eu fico muito abalado quando acabo vendo algo na televisão dos meus colegas de trabalho que se foram”, diz.
Lieuzo conta que perdeu quatro amigos na tragédia e um deles ainda não foi localizado pelo Corpo de Bombeiros: Olímpio Gomes Pinto.
“Meus amigos que estavam comigo começaram a achar os corpos depois de 10 meses, o último foi em dezembro. A gente fica sabendo pelo que os amigos que estão na empresa ainda contam pra gente”, afirma.
Vida não é a mesma
O engenheiro eletricista Rawgleison Batista Amaral é de Birigui (SP) e estava na mineradora quando houve o rompimento. Ele trabalhava na instalação de um sistema de sinalização em um cruzamento de nível próximo ao local da tragédia.
Um ano após a tragédia, ele conta que não presta mais serviços para a Vale e para nenhuma outra mineradora por causa do que aconteceu.
“A vida não é a mesma. Na hora você não tem noção da magnitude do acidente. Quando liguei para minha esposa disse que devia ter morrido umas 15 pessoas. Fiquei muito ruim, tenso, não conseguia nem andar de moto porque achava que iria acontecer algo”, afirma.
Rawgleison também evita ver notícias sobre Brumadinho. Ele diz que no começo até assistia ao noticiário, mas que parou por não fazer bem.
“Quando via sobre as vítimas sempre me lembrava de uma senhora que dava comida para gente no refeitório e fico pensando nela, que não sobreviveu”, afirma.
O engenheiro iria ficar quatro dias em Brumadinho para prestar o serviço para a Vale. Ele chegou na quinta-feira (24), dormiu na casa do amigo que iria ajudar no serviço, e a tragédia aconteceu no dia seguinte.
“Nada vai apagar da minha memória. Sobreviver uma tragédia dessa temos de agradecer a Deus”, afirma.
Fonte: G1 Rio Preto e Araçatuba