Com certeza você já deve ter ouvido falar no famoso Caminho de Santiago de Compostela. Pois então, vamos esclarecer algumas dúvidas. Na verdade, não há apenas um caminho, mas vários. O que eles têm em comum é o ponto de chegada, a cidade de Santiago de Compostela, na região da Galícia, Espanha. Segundo a tradição, ali repousam os restos mortais de Tiago Maior, um dos doze apóstolos de Jesus, respeitosamente guardados numa arca de prata no porão da catedral dedicada ao santo.
Dentre os discípulos, Pedro, Tiago, e seu irmão, João, foram os mais íntimos de Jesus. Os evangelhos nos autorizam a afirmar isso porque, quando o nazareno queria se fazer acompanhar de um grupo mais restrito, era a estes que chamava. Tiago estava também entre os mais impetuosos. Talvez este traço de personalidade ajude a explicar sua pregação nos confins do mundo conhecido, como era a península ibérica. Do mesmo modo, pode explicar o fato de ter sido o primeiro, dentre os doze apóstolos, a morrer em nome da nova fé. Ao retornar a Jerusalém, Tiago foi decapitado, no ano 44, por ordem de Herodes Agripa I.
Após sofrer martírio, o corpo de Tiago foi recolhido por dois discípulos seus, que o acompanhavam desde a Galícia e sepultado nestas terras. Séculos depois, fenômenos luminosos revelariam o local da tumba ao eremita Pelayo.
Do surgimento de um templo à formação de um importante polo de peregrinação para toda a cristandade foi um passo. Peregrinos acorreram de toda a Europa, em busca de alguma graça. Aqueles que vinham de Portugal foram responsáveis por traçar o Caminho Português; os que vinham do restante da Europa firmaram diversos trajetos, sendo mais célebre o conhecido pelo nome de Caminho Real ou Francês, até hoje percorrido por cerca de três quartos do total de peregrinos.
Dependendo da perspectiva pela qual se olhe, podemos enxergar profundas diferenças entre o peregrino medieval e o contemporâneo. Na Idade Média, por exemplo, era permitido enviar um representante até Santiago. A peregrinação podia ser feita por um vassalo, em benefício de seu senhor. Além disso, o caminhante estava mais vulnerável às intempéries e às doenças, sem contar os ataques de salteadores. Mas também há semelhanças. Não é possível negar uma fé que move multidões. Santiago continua inspirando-a. Porém, nem todos percebem que o “milagre” não se opera na catedral, e sim no Caminho que leva até ela. É o tempo que o peregrino reserva aos cuida. Isso é o Caminho de Santiago: fora e dentro; ontem e hoje. Acima de qualquer coisa, é nos passos do peregrino que o Caminho vive.