Falar em educação é falar em processo de lapidação da alma humana, que envolve relações intersubjetivas, mediadas por adulto educador, que necessita de ser representante do mundo adulto e, ao mesmo tempo, sujeito crítico, autônomo, amadurecido.
Antes de mergulharmos na reflexão, queremos deixar claro que é preciso evitar dois extremos na educação moral. Um primeiro modelo a evitar é o de uma educação moral que transmite valores universais, inquestionáveis e imutáveis. Nesse caso, haveria mera reprodução, formatação da mente humana e não educação. Outro extremo a evitar é o modelo de educação no qual todo e qualquer valor está restrito à dimensão subjetiva, que descarta qualquer possibilidade e compromisso com a construção de consensos. Nessa lógica, também, não faz sentido falar em educação moral, que requer juízos morais individuais em sintonia com princípios que possibilitam a vida em comunidade.
Dessa forma, o caminho da educação moral que pensamos refere-se à construção de valores, e deverá estar fundamentado na consciência e na autonomia do sujeito, situado politica e culturalmente.
Falar em educação moral implica conciliar duas dimensões, promovendo a passagem de uma para a outra. Trata-se das dimensões da obrigação e do dever. Inicialmente, a criança deverá ser educada para a obediência aos valores culturais, objetivamente existentes. Nessa esfera, estamos no estágio da heteronomia, uma vez que a criança naturalmente vive no princípio do prazer e precisa ser educada para o principio da realidade, na qual o representante do mundo adulto diz como é o mundo no qual ela irá se engajar. Esse primeiro nível exige adaptação da criança à realidade cultural, o que implica em freio ou limite nos impulsos individualistas constitutivos de sua primeira natureza.
Esse primeiro passo é a obediência aos princípios e valores da cultura. Contudo, a educação moral não pode se restringir a essa dimensão, sob o risco da alienação e do infantilismo. É preciso promover a passagem do estágio da heteronomia para o estágio da autonomia, ou seja, a transição da obediência por obrigação para a ação movida pelo dever, na qual a obediência se fará por uma exigência da razão, exigência interior, que brota de uma mente em esclarecimento.
No nível da autonomia, a ação humana se articula de forma consciente e livre, na cooperação e na reciprocidade dos membros de uma comunidade, engajados na promoção da progressiva humanização da civilização.
Para essa educação moral, a comunidade educativa deve promover situações de aprendizagem nas quais as crianças e os jovens tenham a oportunidade de vivenciar, em equipe, a construção e a consolidação de valores morais, mediante reflexões éticas amadurecidas e racionalmente fundadas.
A educação moral vai construindo a personalidade moral do individuo que vai amadurecendo gradativamente no senso de justiça, na emissão de juízos críticos a respeito da configuração do tecido social, das normas sociais existentes, no afetivo e efetivo engajamento na construção da justiça social.
Quanto aos procedimentos metodológicos, os educadores deverão fomentar debates e discussões que promovam a construção conceitual e atitudinal, propondo dilemas ético-morais, que solicitam habilidades relacionadas à resolução de conflitos. Dessa forma, o educador se coloca na dinâmica da construção da personalidade moral do estudante, em contexto de democracia participativa.
Assim, a educação moral que visa à formação da personalidade moral do sujeito consciente e autônomo passa pelo reconhecimento da alteridade como valor moral. A existência do outro interpela meu ser para um processo de descentração, na construção de uma cultura da solidariedade. Este é o cerne das reflexões éticas e morais: a construção da humanidade.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador