Outro dia eu perguntei a alguns amigos, qual seria o principal problema a ser administrado em uma casa, depois da parte financeira. E todos responderam que não teriam problemas a resolver. Fiquei contente com isso, afinal esse seria o sonho de todos nós, brasileiros acostumados a conviver com uma série de problemas.
A conversa se estendeu, mas quando perguntei sobre como ficariam esses funcionários se, durante uma semana eles não pudessem contar com o serviço de coleta de lixo, feito pela prefeitura. E aí a coisa se complicou, e ninguém nos ofereceu uma resposta convincente. Alguns que se propuseram a levar o lixo até um local apropriado, suprindo a ausência do caminhão coletor. Outros prometeram, em sinal de protesto, deixar o lixo na rua, e houve até um, mais revoltado, que depois de salientar que pagava os impostos em dia, seria capaz de levar o lixo e depositar na porta da Prefeitura...
Bem, sugestões à parte, voltemos ao problema. Não é de hoje que a nossa São Paulo, a exemplo do que acontece em muitas cidades brasileiras, se ressente de uma solução definitiva para o problema do lixo. E ele começa no nosso hábito de consumo, se estende pela nossa má ou falta de educação, e chega ao Poder Público, muitas vezes inoperante, omisso e sem coragem para uma ação mais enérgica, para resolver o problema.
E, dentro das sugestões que ouvimos, houve até aquela, e que toda empresa que lançasse um produto, seria obrigada a comprar a embalagem, mesmo que repassasse o custo dessa embalagem ao preço final. E, mesmo se tratando de centavos, e grande escala poderia ser rentável para pessoas ou cooperativas de catadores de material reciclável.
A verdade é que, a exemplo da água que consumimos, e que a cada dia é buscada de lugares mais distante da cidade, também ocorre com o lixo. A cada dia somos obrigados a encontrar locais mais distantes, que possam receber as milhares de toneladas de lixo que produzimos. E, nesse lixo, a maioria é de produtos, resultados do nosso hábito de adotar o descartável, que a longo prazo custará muito caro aos nossos netos e bisnetos. E isso ocorre com o plástico, os tais produtos perigosos, fraldas descartáveis, filtros de cigarros, e muitos outros produtos, sem falarmos nos resíduos químicos, hospitalares, entre outros.
Uma boa notícia é que, alguns produtos, até recentemente considerados altamente perigosos ao meio ambiente, como as pilhas usadas e eletroeletrônicos, hoje tem uma destinação digna, e fornecem material para a coloração de pisos cerâmicos, por exemplo. Na agroindústria, por exemplo, houve um tempo em que o vinhoto, subproduto da produção canavieira era despejado em rios e cursos dágua, promovendo a mortandade de peixes. Hoje, esse produto é colocado na lavoura, como adubo.
O que se vê é que, iniciativas desse porte partem sempre da iniciativa privada. Enquanto isso, o Poder Público se restringe a incentivar uma ou outra cooperativa de catadores de recicláveis, e os poucos caminhões de coleta ainda nos deixam dúvidas sobre qual é o destino dado ao material que recolheu das residências...
A verdade é que a sociedade moderna tem uma grande capacidade e extrema agilidade para criar problemas, e o lixo é um deles. E, quanto às soluções, elas seguem uma rota inversamente proporcional à isso. Resta saber como as futuras gerações terão que agir para administrar essa situação.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br