Sempre sonhei em escrever um livro, confesso que tentei fazê-lo em um caderno de mola espiral. Mas na medida em que ia escrevendo, crescia uma angústia, já existiam milhões de livros escritos no mundo. Só pelas minhas mãos passaram centenas ou quem sabe, milhares. Para que mais um livro. Só pela vaidade de tê-lo escrito, com um prefácio de uma pessoa famosa ou conhecido nos meios literários. Ou apenas para fazer terapia gratuita com quem não tem nada a ver com a minha trajetória por este mundo. Fui dia-a-dia arrancando às páginas manuscritas e em um mês durante uma noite quente de luar sentado em um banco em frente da Igreja Matriz. Descobri que o livro tinha apenas uma página com apenas três letras maiúsculas. FIM. Deixei para sempre o meu grande sonho. E com isso lucraram os meus poucos amigos, que se sentiam obrigado a comparecer na noite de autógrafos e ainda comprar aquele livro com toda aquela baboseira e levar para casa fazendo propaganda da obra prima para não passar de idiotas junto aos seus amigos intelectuais. Mas sinceramente tentei poemas, prosas, crônicas e outros estilos. Tudo uma inutilidade, coisas de terceira categoria que foram parar no cesto de lixo. Bem vamos esquecer um pouco o sonho e vamos para a realidade. O livro acompanha a evolução da humanidade desde o alvorecer da história. Há quatro séculos inspirou a produção industrial em série, antecipando-se a indústria moderna. Já no século 21, novamente o livro se adianta à história da indústria do futuro para universalizar o acesso à informação e ao conhecimento. Mas milhões de brasileiros estão excluídos do direito à informação, sem qual não se da o conhecimento e não se educa um povo para ser livre e empreendedor. Também não há sociedade democrática sem o livre acesso a informação. Como pode o livro custar mais caro para nós brasileiros do que custa para leitores de outros países, como explicar o preço tão alto no Brasil com todos os incentivos fiscais concedidos pelo governo. A população reclama por mais espaços públicos de acesso ao livro, por acervos mais complexos e atualizados e por um formato de livre acessibilidade à leitura. Faltam bibliotecas onde se concentram os pobres excluídos do consumo. O livro e os autores precisam estar onde o povo está E o governo precisa ser o facilitador desse encontro, patrocinando os meios necessários para que ele se dê em igualdade de oportunidades para aqueles que não podem pagar pelo livro.
Nesse sentido o livro, mais uma vez, e os seus leitores excluídos são os protagonistas de uma nova mentalidade na indústria com o desenvolvimento em série de produtos de leitura, barato e acessível para todas as pessoas. ¨Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta¨Francisco Xavier.
*Horácio Delalibera- horaciodelalibera@bol.com.br