Paulo Reglus Neves Freire jamais concordou com práticas educacionais que transmitissem aos sujeitos um saber já construído. Ele acreditava que o ato de educar deve contemplar o pensar e o concluir, contrapondo a simples reprodução de idéias impostas - alfabetização deveria ser sinônimo de reflexão, argumentação, criticidade e politilização.
Se em práticas educacionais envolvendo alfabetização em níveis de escolaridades “adequados”, metodologias tradicionais de ensino não despertam interesse do educando, no entanto estas ações são um convite a evasão escolar.
Ao pensar em alfabetização de adultos, Freire considerou a ausência de sentido presente nas lições das cartilhas, com frases desvinculadas da realidade do alfabetizando - que após trabalhar o dia todo, sentava em uma cadeira, preocupado com o gás, a água, a energia elétrica, o alimento e o salário do mês - e ouvia frases como “O boi baba e bebe” ou “Vovô viu a uva”. Em que frases como estas contribuiriam para seu cotidiano? Aprender a ler e escrever para quê?
Uma mudança seria eminentemente necessária.
As atividades apresentadas a eles também eram desmotivantes ao processo, pois traziam suas respostas prontas, sem a necessidade de uma reflexão sobre o assunto. Apesar de que não havia o que um adulto, trabalhador, assalariado pudesse analisar em frases - desprovidas de informação - como as acima citadas. Então, realmente as práticas envolvendo a alfabetização de adultos estavam desvinculadas da realidade de seus educandos.
Paulo Freire iniciou suas pesquisas de campo, e através delas pode confirmar que as metodologias e os materiais didáticos utilizados, estavam desmotivando os alunos, que demoravam muito a apresentar resultados e acabavam abandonando os estudos. Após esta conclusão, Freire elaborou seu método montou sua equipe e partiu para o desafio de alfabetizar para além das cartilhas.
Para realização de seu trabalho, o educador deveria saber ouvir o educando em suas experiências e através delas elaborar seu roteiro de ação, apresentando materiais que apresentassem sentido para a vida dos alfabetizandos, proporcionando a eles ricos momentos de reflexão, durante os “círculos de cultura” - nomenclatura utilizada por Freire para apresentar essa fase do método.
Os resultados foram surpreendentes, os alunos foram alfabetizados em pouco tempo e apenas um se evadiu, evidenciando o sucesso do método. Então, várias novas cartilhas que estimulavam o pensar crítico e consciente foram elaboradas.
E Freire foi exilado por vários anos, fato que não o impediu de continuar sua luta por uma nova proposta educacional em território brasileiro - uma educação transformadora.
Ao retornar ao Brasil, Paulo deu continuidade aos seus trabalhos e transformando por onde passasse, a forma de pensar de muitos oprimidos.
Faleceu vítima de um enfarto, deixando algumas de suas principais obras: Educação como Prática de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas à Guiné Bissau, Vivendo e Aprendendo, A importância do Ato de Ler, que tanto contribuíram e contribuem para a educação em nível mundial.
Em seu legado Freire enfatiza a educação como prática de libertar o ser humano das amarras impostas por interesses pessoais e políticos, proporcionando a educadores reflexões a respeito de suas responsabilidades enquanto mediadores de conhecimento, livre de alienações que descaracterizam uma educação significativa e contrapõem a “formação de um cidadão crítico e consciente” - objetivo maior do processo educacional vigente. ¨Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.
FONTE:Obras de Paulo Freire
*Horácio Delalibera- horaciodelalibera@bol.com.br