O tempo passa, o tempo voa, mas os preconceitos seguem firmes enraizados na alma das gentes. Hoje, lendo as mídias sociais e os órgãos de comunicação online, pude observar os comentários maldosos acerca do fato de o deputado Tiririca ter sido considerado um dos 25 melhores parlamentares no Congresso Nacional, escolhidos pelos jornalistas. As pessoas, via de regra, acham tudo isso muito surpreendente. Viceja aí o sempre cultivado preconceito com relação aos pobres, aos feios, aos sujos. Para a maioria das gentes -mesmos as empobrecidas, como Tiririca- é absolutamente certo que um cara semianalfabeto, vindo da periferia do país, um palhaço de circo, não poderia dar boa coisa. Seria mais um a mamar nas tetas do Estado, usando as verbas parlamentares para se locupletar (encher os próprios bolsos).
Mas, uma boa olhada no nosso Congresso, ao longo dos anos, já mostra que os mais “dignos” deputados, homens ricos, bem sucedidos empresários, doutores; enfim, a nata da sociedade, são os que estão acostumados aos desvios, às maracutaias, às tretas. Não são os “manés” aqueles que estão metidos nos escândalos, até porque quase nunca chegam a sentar numa cadeira de deputado. O poder financeiro não permite.
E o que sabemos da atuação do Tiririca? Que ele trabalha, que ele tem se esforçado e que apresentou um importante projeto para proteger a gente do circo. Olha só! Ele quer que o Estado garanta ao povo do circo o direito de estar incluído na Lei Orgânica de Assistência Social, para que possam ser atendidos pelo SUS mesmo sem ter endereço. Segundo ele, os artistas circenses não conseguem atendimento médico nos posto de saúde por esse motivo: não têm endereço. Assim como não podem ter seus filhos matriculados na rede pública de ensino. Pois vejam bem, o Tiririca está atuando pelos direitos dos que o elegeram de fato: os empobrecidos, os abandonados. Ao contrário dos deputados que se elegem prometendo cuidar dos pobres, ganham o voto dos pobres, e depois se deitam na cama dos seus financiadores de campanha, cedendo aos desejos das grandes empresas, das multinacionais. Quem é o “mané” aí?
Segundo informes da Câmara dos Deputados, Tiririca é um dos nove parlamentares que registraram presença em todas as 171 sessões destinadas às votações. É presença certa nas comissões, coisa que não é obrigatória e esteve em 106 (88%) das 120 reuniões da Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular. Também segundo os dados da Câmara já apresentou sete projetos de lei – todos voltados para o circo e a educação. Ainda não falou no plenário, mas pode ser encontrado sempre em seu gabinete, onde atende com deferência a quem quer que chegue.
Eu não sei o que vai acontecer com o Tiririca, se ele vai um dia sucumbir ao canto da sereia do poder. Se vota com a direita, se não tem muita consciência do que é o seu minúsculo partido. Mas, hoje, quero dizer que me sinto feliz por ver esse palhaço brasileiro fazer o que tinha prometido de fato. Pior do que tá não fica, dizia o seu slogan. Pensando no povo do circo, essa gente mágica que anda por aí levando alegria, discriminada e abandonada, para eles pode ficar melhor. Porque eles têm um representante de verdade. Alguém de sua classe que está lutando por eles, que não os esqueceu ao entrar nos salões acarpetados.
Também sei que não se deve idealizar as gentes empobrecidas. Não é pelo fato de ser pobre que torna alguém bom. Mas, da mesma forma, não se pode demonizá-las nem esperar sempre o pior. O Tiririca está indo bem. Meus respeitos, deputado...
*Elaine Tavares é jornalista