Segundo os hinduístas, “Avatar” é uma manifestação corporal de um ser imortal, por vezes considerado até um Ser Supremo. Deriva do sânscrito “Avatra”, que significa “descida”, normalmente denotando uma das encarnações e “Vishnu” (tais como “Krishna”), que muitos hinduístas reverenciam como divindade.Muitos não hindus, por extensão, usam o termo para denotar as encarnações de divindades em outras religiões.
O filme, escrito e dirigido por James Cameron, é uma obra repleta de efeitos especiais e muita ação, portanto o longa metragem é uma boa opção para quem aprecia essas características no decorrer de uma obra cinematográfica.
Além de nos oferecer um bom momento de distração, o filme Avatar pode nos remeter a uma série de reflexões muito atuais nos campos da antropologia e da psicologia.
Ao nos depararmos com o choque de culturas e ideias apresentado na obra de Cameron, através do encontro do povo Na’vi (humanoides defensores da natureza) com os homens do mundo capitalista, passamos a enxergar no filme os temas mais debatidos em nosso mundo contemporâneo. As questões sobre a influência do capitalismo no mundo, a preservação da natureza e as diferentes manifestações religiosas são temas que norteiam toda a obra.
Somos espectadores e muitas vezes participantes de uma poderosa guerra de ideologias, mas infelizmente não é uma ficção como acompanhamos em Avatar e sim, uma guerra da vida real.
Nosso mundo é uma verdadeira mistura de filosofias de vida, religiões, políticas, modos diferentes de pensar e viver. Cada ser humano, grupo ou povo tem seu modo peculiar de reger a vida. As ciências antropológicas abrem nossos olhos e nos tornam mais sensíveis a essas diferentes características e nos faz libertos, muitas vezes, dessa guerra que “massacra” o diferente ou aquilo que não está a favor dos projetos do mundo capitalista.
Em Avatar, assistimos àquilo que vivemos no nosso dia-a-dia, a briga constante e desenfreada do capitalismo contra a sustentabilidade, que em conseguinte sufoca todo e qualquer tipo de filosofia de vida ou diversidade cultural existente em cada povo.
Os Na’vis, no filme Avatar, são espelhos, reflexos de diversos povos, religiões e culturas que enxergam na natureza e em suas divindades, uma fonte que alimenta e conduz todo tipo de vida, seja ela animal ou vegetal. A maioria dos povos possui sua “Eywa” (divindade dos Na’vi) e seu modo de filosofar sobre as mais diferentes questões do mundo.
Pensamentos capitalistas como: “Tempo é dinheiro” ou “É melhor reinar no inferno do que servir no céu”, se choca de maneira agressiva com o pensamento dos povos que pregam uma vida em harmonia com a natureza, sem a presença da troca constante do “ser” pelo “ter”. Já diziam os filósofos: “Melhorar o mundo é melhorar os seres humanos. Se só pensarmos em nós mesmos, nossa mente fica restrita”.
Para que essa guerra não termine num verdadeiro “massacre cultural, natural e religioso”, seria importantíssimo abrir os olhos para aprender a colocar em prática o equilíbrio e o respeito entre as diferentes culturas e políticas, afinal “o meu limite termina onde o do outro começa”.
Pode parecer utopia em comparação ao que vivenciamos nos dias de hoje, mas seria muito bom e equilibrado se um dia a sensibilidade de “Eywa” inspirasse e se misturasse à visão de uma “evolução limpa” dos homens do mundo capitalista. Isso sim seria uma grande prova do equilíbrio almejado entre povos, o equilíbrio entre natureza e modernismo.
*Vinícius Schumaher de Almeida é 2º período de Psicologia UNIFEV