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Artigo
A doce ternura da infância
*Professor Manuel Ruiz Filho; manuel-ruiz@uol.com.br
Numa bonita manhã de sol quando me postava comodamente sentado num desses bancos de encostos curvos de jardim, coberto de primaveras coloridas em rosa choque, aproximaram-se de mim quatro ou cinco crianças. Conversavam despreocupadas e inocentemente discutiam assuntos de seus domínios e que eu achei muito interessante. Encantei-me com o que via e ouvia. Uma das crianças perguntava às outras se conheciam o novo coleguinha do bairro, menino humilde, educado e cheio de graça. Cabelo negro e curto, bem aparado e com um pequeno redemoinho do lado direito que lhe dava um toque infantil todo especial. Dentes perfeitos. Um doce de criança. Unanimemente responderam que não conheciam. Mas as perguntas sobre essa criança foram uma chuva de curiosidades. Coleciona borboletas? Roda pneu nas calçadas? Sabe assobiar sem colocar apito na boca? Tem cachorrinho lulu em casa? Sabe contar historinhas do Mickey? Conhece Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio e a Fada Madrinha? Tem bolinhas de gude no bolso? Sabe pular amarelinha? Sabe jogar trilha? Conhece a magia do ‘passar anel’? Brinca de piqui? Solta balão? Roda pião? Sabe recitar? Que cor é a casa dele? Tem quintal grande com flores no parapeito das janelas? Bem, se ele sabe, se ele tem, se ele brinca com tudo isso, comentou o menino que trouxe a notícia: é mais um amiguinho que ganhamos na turma. Vamos visitá-lo e saber como é sua mamãe. Será brava? Deixará a gente brincar juntos? Tudo isso me fez pensar como são inocentes todas as crianças longe da adolescência. Como elas se diferem nos modos, no jeito, na forma de agir dos adultos. O assunto acabou entre aquelas crianças e elas foram embora. Continuei no banco a balançar a cabeça e a pensar como as pessoas nascem puras de coração e alma. Confesso que tive inveja dessa fase tão significativa que vive os pequeninos. Vontade imensa de mandar embora a frieza e a praticidade que o mundo adulto me impregnou ao longo dos anos. Que saudosa lembrança eu tive de voltar a ser chamado de ‘meu menino’. A vida é assim, não tem volta. Por isso precisamos deixar nossas páginas bem escritas e sem erros. Para me deixar ainda mais encabulado e surpreso, aproximaram-se do mesmo lugar onde as crianças estavam quatro ou cinco rapazes, de postura adulta e se puseram a tecer comentários dos mais diversos. Por incrível que pareça um dos assuntos deles era o mesmo dos ausentes infantis. O linguajar era outro, claro. Perguntas sobre a nova garota recém-chegada ao bairro. De onde ela veio? Tem namorado? Será que topa ir à balada conosco? O pai é rico? Que formação tem? Quanto ganha? Que ano e modelo é seu carro? Será que possui milhões em banco? Tem formação superior? Casa confortável? Piscina? Dança? Conhece o exterior? Cabelos longos? Saia curta? Os adultos perdem o encantamento das crianças assim que a barba lhes cobre o rosto ou suas axilas já podem ser depiladas. Pouco há o que fazer com eles. Fico perplexo hoje quando ouço o som dos carros que andam. Nem precisam ser do último tipo, mas o som de dentro deles é insuportável para os tímpanos. Creio eu, que essa geração vai migrar muito cedo para uso de aparelhos auditivos. Têm ganância pelo supérfluo, pelo menos justo, pelo impossível. Quanto tempo o exemplo dos pequeninos vai demorar a incutir nesses adultos as lições que precisam aprender! A criança é um exemplo de conduta. Tem colo que acolhe, tem braço que envolve, tem palavra que conforta, tem silêncio que respeita, tem alegria que contagia, tem lágrima que corre, tem olhar que acaricia, e melhor, tem um doce amor no pequeno coração que possui.
Notícia publicada no site: www.acidadevotuporanga.com.br
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