Tribunal do Júri julgou o primeiro caso de feminicídio em Votuporanga; julgamento durou cerca de nove horas
Durante a leitura da sentença, Kevin Michael chorou ao ouvir do juiz a pena de 28 anos aplicada (Foto: Aline Ruiz/A Cidade)
Aline Ruiz
O plenário do Tribunal do Júri ficou lotado durante todo o dia desta sexta-feira (14) em Votuporanga. Mais de 60 pessoas acompanharam o julgamento do jovem Kevin Michael de Carvalho, de 20 anos, acusado de matar a facadas a sua ex-namorada, Maria Letícia Leal da Silva Tangoda, de 20 anos, em fevereiro deste ano. Após cerca de nove horas de julgamento, o réu foi condenado a 30 anos de prisão pela morte da vítima.
A sessão foi presidida pelo juiz da 1ª Vara Criminal, Jorge Canil, que durante a leitura da sentença afirmou que os jurados reconheceram a materialidade, a letalidade e a autoria, afastando a absolvição e o privilégio, acolhendo as qualificadoras. “As circunstâncias são inteiramente desfavoráveis ao réu, que agiu com verdadeira fúria contra Maria Letícia, que não teve meios de se defender e nem de romper o relacionamento com Kevin, devido às ameaças por parte do mesmo”, disse o juiz.
O juiz continuou dizendo que o réu estaria infernizando a vida da vítima, fazendo ameaças contra ela e contra as pessoas que ela amava. “Pairam suspeitas de que ele tenha matado outro homem por ciúme. O réu simplesmente aniquilou a vida da pessoa que ele dizia amar. Não é assim que se ama. Amar também é renúncia, é permitir que a pessoa amada siga o seu rumo se a relação não lhe for mais conveniente”, frisou.
O juiz revelou ainda que foram encontradas mais de 30 lesões no corpo de Maria Letícia após perícia. Por fim, foi aplicada a pena-base de 30 anos de reclusão, porém, devido a confissão e a idade do jovem (menor que 21 anos), a pena teve uma redução de dois anos.
Durante seu depoimento, Kevin chegou a afirmar que teria sim matado Maria Letícia, mas que teria matado por amor. Sobre a morte de Aldo de Oliveira Alves, que ele também confessou ter matado no dia da morte da ex-namorada, o rapaz voltou atrás e negou seu envolvimento no homicídio, que aconteceu em março do ano passado.
Além de Kevin, foram ouvidas seis testemunhas de acusação e quatro de defesa.
AcusaçãoRepresentando o Ministério Público, o promotor Marcus Seabra elogiou o corpo de jurados e afirmou estar bastante satisfeito com o resultado final. "Os jurados foram firmes e reconheceram quatro qualificadoras: meio cruel, recurso que dificultou, motivo fútil e feminicídio, então todos estão de parabéns pelo julgamento firme e serena”, disse.
Sobre a pena aplicada pelo juiz, o promotor revelou ser uma resposta estatal firme totalmente aplicável no caso como o de Kevin. “Uma ótima pena imposta pela justiça, é uma importante mensagem para a comunidade, no sentido de que mulheres não podem ser mortas de uma maneira tão bruta por ter decidido romper um relacionamento. A decisão foi um marco, mais uma vez meus parabéns para os jurados”, finalizou.
DefesaO advogado de defesa, Marcos Antônio Gianezi, confessou ter sido um júri bastante difícil. “Bati na tecla do homicídio privilegiado, mas qualificado, e na exclusão das qualificadoras, exceto o feminicídio, já que o caso envolve duas pessoas que mantinham um relacionamento amoroso. Mas os jurados estavam convencidos e condenaram Kevin, porém, eu como advogado de defesa, vou recorrer”, ressaltou.
Segundo o advogado, a defesa acredita que a pena tenha sido exagerada. “O juiz deu pena máxima, então em um primeiro momento vamos tentar anular e fazer um novo julgamento, se não for possível, queremos tentar pelo menos diminuir a pena de uma maneira mais sensível por meio de uma tese secundária”, explicou.
Conselho de SentençaO Tribunal do Júri foi composto pelos seguintes jurados: Luciana de Souza Francisco; Talita Mesquita Zolyoni; Camila Nagiara do Nascimento; Antonio Alberto Casali; Rosângela Smith Rodrigues dos Santos; Silvia Letícia de Faria e Sileno Marcos Araújo Ortin.
Relembre o casoMaria Letícia foi morta pelo ex-namorado com 14 facadas na região do coração e da barriga no dia 13 de fevereiro deste ano. O rapaz se entregou para a polícia logo após cometer o crime e afirmou que não aceitava o fim do relacionamento com a jovem, por isso a seguiu até a casa dela, localizada na rua dos Eucaliptos, no bairro Chácara das Paineiras, e a matou com golpes de faca.
Kevin teve a prisão preventiva decretada no mesmo dia do crime e foi encaminhado para a cadeia pública de Guarani D’Oeste, onde permanecerá até o fim de seu julgamento.