Em entrevista exclusiva, novo delegado da Dise, Allan Soares, revela bastidores do crime que tem destruído dezenas de famílias
Allan Soares, novo delegado da Dise, revelou os bastidores do tráfico em Votuporanga (Foto: A Cidade)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Mais de 140 pessoas presas, 26 menores apreendidos e cerca de 340kg de drogas tiradas de circulação. Este é um balanço frio dos resultados das ações de 2020 da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes). Em entrevista exclusiva ao A Cidade, porém, o novo delegado da Especializada, Allan Soares, revela os bastidores do que os dados estatísticos não mostram: a rota do tráfico em Votuporanga.
De família de policiais (seu pai era agente da Polícia Federal), o jovem delegado, de 36 anos, cresceu com o desejo de atuar no combate ao crime, e conseguiu realizar esse sonho ao ingressar na Polícia Civil em 2012. Nascido e criado em Rio Preto, Allan iniciou a carreira policial na periferia de São Paulo, comandou algumas delegacias por lá até voltar para a região.
Em outubro do ano passado, ele assumiu o comando da Dise e, desde então, tem direcionado os trabalhos de enfrentamento ao crime que, para ele, é a mola propulsora para a maioria dos demais delitos.
“A imensa maioria das prisões no Brasil e em Votuporanga é por tráfico. A mola propulsora para outros crimes também é o tráfico, muitas vezes para sustentar o vício ou para criar coragem para outras práticas mais violentas. Daí derivam também a disputa por pontos de tráfico, que, em alguns casos geram execuções e as vezes até tiram a vida de inocentes. Por isso é que nos empenhamos tanto para combater o tráfico”, disse.
Ainda de acordo com o delegado, há grandes traficantes que redistribuem o entorpecente pela cidade e região, pessoas que já foram presas pelo crime, mas acabam beneficiadas pela legislação penal brasileira e voltam para as ruas para praticar o mesmo crime.
“A maioria dos traficantes de Votuporanga são o que chamamos de ocasionais, traficantes que fazem disso um meio de vida, mas a quantidade de drogas que movimentam é pouca e fazem a venda a serviço de traficantes grandes. Os grandes atuam em número reduzido, muitos deles, inclusive, já foram presos, mas já estão em liberdade e se envolvem novamente com o tráfico de drogas”, completou o delegado.
Enxuga gelo
Diante desse quadro, em que a polícia prende e a Justiça solta, o delegado revela que as vezes os policiais se sentem em uma “operação enxuga gelo”.
“Isso não é exclusivo do tráfico, mas de todos os crimes. Nossa legislação penal permite e isso acaba atrapalhando. As vezes focamos em meses de investigação para prender traficantes e em pouco tempo eles já estão soltos, na maioria das vezes, voltando a fazer o que estavam fazendo. Confesso que é meio frustrante, mas não apontamos o dedo para nenhum outro órgão ou instituição, pois a gente sabe que todos estão seguindo a mesma legislação e não somos nós que legislamos”, afirmou.
Rota
Conforme o delegado, a maioria dos entorpecentes que é comercializado em Votuporanga tem origem paraguaia, passa pelo Mato Grosso do Sul e chega no município por meio da Euclides da Cunha e também pela conhecida “rota caipira”, em Araçatuba.
“A principal via de entrada do entorpecente no município é a rodovia Euclides da Cunha, que passa por aqui e segue sentido a Rio Preto, onde se encontra com a ‘rota caipira’, em Araçatuba, e num raio de 40 a 50km as rotas acabam se interligando e redistribuindo novamente pela Euclides da Cunha”, explicou o delegado.
Depois de percorrer essa rota, as drogas são encaminhadas para os traficantes espalhados por toda cidade, com maior foco nos bairros Matarazzo, Pró-Povo e Paineiras, de onde também é redistribuída para as cidades menores do entorno.
“Não é uma exclusividade de Votuporanga, todas as cidades já possuem os seus pontos de drogas, pois os usuários precisam saber onde encontrar. Porém, o tráfico de drogas já se instalou em todos os bairros, mas há alguns que sofrem com isso de uma forma mais intensa, como o Matarazzo, o Pró-Povo e Paineiras, que são os pontos principais aqui da cidade, mas repito, o tráfico de drogas, infelizmente, já se instalou em toda a cidade”, completou.