Autoridade policial da Delegacia de Defesa da Mulher também comentou sobre a sua trajetória e casos que mais a marcaram
Delegada Edna Rita de Oliveira Freitas, da DDM, fala sobre aumento de casos de violência neste ano (Foto: A Cidade)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
O registro de ocorrências de violência contra a mulher tem tido um aumento gradual neste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. É o que disse a delegada Edna Rita de Oliveira Freitas, da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Votuporanga em entrevista exclusiva ao
A Cidade.
A autoridade também acrescentou que o contexto da violência contra a mulher não tem melhorado no município, mas, por outro lado, mais denúncias vêm sendo registradas pela DDM.
"Pode ser tanto o aumento da violência, quanto das mulheres que tem mais consciência dos seus direitos e tem procurado a Justiça. A violência sempre existiu, principalmente dentro das casas. Só que ela era sempre oculta, por causa daquela história de 'em briga de marido e mulher, não se mete a colher'. Hoje em dia, não. Recebemos denúncias de vizinhos e parentes que comunicam conhecimento de uma situação de violência", contou a delegada.
Vítimas
Quando se considera a situação e o contexto das vítimas, Edna ressalta que existem vários fatores que devem ser considerados. Entre eles, a autoridade policial apontou o medo, autoestima baixa, marido ser o único provedor da subsistência da mulher e dos filhos e afetividade.
"Só quando nos aproximamos de uma vítima mulher que vemos as circunstâncias que a impedem de registrar [uma ocorrência] ou de, após registrada, dar um prosseguimento ao processo contra o autor [da violência]", contou Edna.
Casos marcantes
Quando questionada pelo
A Cidade sobre os casos mais marcantes da sua carreira à frente da DDM, a delegada relatou dois.
O primeiro, que ocorreu em meados do ano passado, foi de uma idosa que sofria violência do marido. A delegacia acompanhava o caso dela por meio do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e a delegada tinha pedido diversas vezes por uma medida protetiva para afastar o marido da casa da vítima.
"Num finalzinho de tarde, eu resolvi ir lá buscar a vítima para passar ela por IML [Instituto Médico Legal], porque o marido estava impedindo. Quando chegamos lá, ele estava agredindo ela. Autuei ele em flagrante e foi concedida a medida protetiva. Ela foi tirada da casa e levada para a casa das filhas", relembrou a delegada.
Já o outro caso teve um desfecho trágico. Uma jovem acabou sendo assassinada pelo parceiro um dia após procurar a DDM para registrar um caso de violência contra ela. A jovem já tinha recorrido à delegacia outra vezes por razões semelhantes e, no dia anterior à sua morte, tinha sido orientada a pedir uma medida protetiva contra ele.
"A gente se sente frustrado por não ter conseguido proteger uma vítima. É uma coisa que marcou muito", contou a delegada.
Carreira
Edna ingressou na Corporação em 1985, como escrivã da polícia. Oito anos depois, ela passou num concurso para delegada e exerceu a função na DDM de Serra Negra. Depois, veio para Votuporanga, onde trabalhou no primeiro, segundo e terceiro Distrito Policial. Em 2010, ela assumiu o posto de delegada da DDM do município.
"Quando comecei a trabalhar na DDM, passei a ver as circunstâncias, o que leva uma mulher a registrar uma ocorrência. Vi que é uma delegacia extremamente necessária para orientação, por ter um corpo mais especializado para o atendimento desse tipo de violência", disse a delegada.
Ela também ressaltou que a delegacia trabalha "em rede", de forma que todas as mulheres atendidas recebem encaminhamento para o Cram (Centro de Referência de Atendimento à Mulher), onde encontram uma equipe multidisciplinar.