Agora é uma hora excelente para as montadoras brasileiras refletirem sobre o que fazer para proteger seu mercado e, se possível, aumentar o marketshare. Chegou a hora de encantar o consumidor.
Com o robusto suporte do governo federal, a indústria automobilística nacional conseguiu arrefecer o ímpeto dos importadores asiáticos de veículos e ajustar a balança do acordo comercial com o México, conquistas fundamentais para sua sustentabilidade.
A reação veio rápida. Já se nota a retração nas vendas dos importados, que bateu na casa dos 46% nestes primeiros meses, acompanhada de anúncios de investimentos para produção local dentro das novas regras, as quais devem favorecer nossa indústria de autopeças. Entretanto, chineses, mexicanos, e quaisquer que sejam os concorrentes, não devem ser menosprezados.
A respeito das importações do México, que nos últimos dois anos cresceram a ponto de desequilibrar a balança comercial brasileira com substancial vantagem para os mexicanos, é bom que se diga que o custo da mão de obra daquele país é mais competitivo que o nosso, assim como o custo das importações mexicanas de componentes de outros países.
O momento é estratégico e o cenário é propício para a indústria automobilística praticar o que já sabe, uma vez que as empresas aqui instaladas têm acesso à praticamente todas as tecnologias dos mercados desenvolvidos.
É hora de encantar o consumidor adicionando aos veículos de entrada itens que agregam mais valor do que custo ao produto final. E o foco pode ser a redução de consumo de combustível e a segurança para o motorista e os outros ocupantes do veículo.
Estou falando de coisas como o piloto automático, presente como item original de fábrica nos pequenos veículos europeus (mesmo com transmissão manual) há mais de uma década; o sistema de controle de tração, que pode ser incorporado com custo muito baixo para facilitar o tráfego em estradas lamacentas ou pisos de baixa aderência; e o ponto morto em transmissões automáticas, mediante a programação dos módulos eletrônicos para que o câmbio fique na posição “neutro” no acionamento do freio, e volte à “drive” no acionamento do acelerador.
São exemplos de acessórios simples e baratos. Existem outros mais sofisticados que cedo ou tarde acabarão chegando por aqui, como o motor que desativa dois dos quatro cilindros quando o veículo para no semáforo e que se reativam com o acionamento do acelerador; e o ainda mais sofisticado sistema que regenera o esforço da frenagem em descidas longas gerando energia elétrica que recarrega a bateria exigindo menos do alternador e que também transfere o torque para as rodas. Tais itens já estão em pleno uso nos EUA.
Quem tiver mais ousadia para inovar sairá na frente com esses itens e muitos outros de baixo custo. Mesmo representando avanços tecnológicos modestos quando comparados aos que a engenharia já criou, eles seriam de grande valia para os consumidores. E, o mais importante: criariam uma diferenciação em relação aos players entrantes. O prêmio para essas iniciativas certamente seria o reconhecimento do mercado.
*Francisco Satkunas é engenheiro e conselheiro sênior da SAE BRASIL